“A demanda neste edifício apareceu por conta da necessidade de reduzir a dimensão dos pilares para caber mais carros na garagem: conseguimos 16 vagas a mais. Para que isso acontecesse era necessário reduzir a dimensão dos pilares para que os carros tivessem espaço para estacionar na garagem, porque era um prédio executivo.
O concreto, pra isso, tinha que superar os 40 MPas iniciais e chegar em 80 MPa. Na época, não tinha sido realizada nenhuma obra na cidade de São Paulo com uma resistência tão alta”,
conta Paulo Helene, consultor especialista em estruturas que no período participou do projeto como professor representante da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Para enfrentar esse desafio de ganho de resistência, a construtora Tecnum trouxe para o projeto importantes instituições da indústria da construção civil, para trabalharem conjuntamente: a Engemix; a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP); e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Paulo Helene conta que combinou com a Engemix realizar a produção do concreto de mais alta resistência possível dentro das condições de materiais que haviam e também dentro do perímetro de logística da cidade de São Paulo. “Qual seria o cimento de maior resistência que poderíamos produzir em uma central de concreto em zona urbana? O desafio era produzir um concreto comercial usando o caminhão-betoneira, considerando que nós temos o trânsito também. Então, conseguimos fazer um concreto de resistência média de 125 MPa, ou seja, bem superior aos 80 MPa que nos foi solicitado e era necessário, justamente para demonstrar que isso era possível”, ressalta.
Para chegar ao traço ideal, foi preciso encontrar e aplicar, principalmente, dois diferenciais na composição deste concreto. De acordo com o diretor da Tecnum, a areia utilizada para a sua composição foi especial. “Foram tomadas algumas providências para a execução desse traço especial que usamos. Nós tínhamos uma areia que vinha de uma região diferente e, ao invés de utilizarmos uma brita normal oriunda do granito, nós usamos basalto, que é um material mais resistente. Além disso, tivemos a importante incorporação de aditivos modernos para a época. Houve muita tecnologia envolvida”, destaca, Jorge Batlouni.
De acordo com Paulo Helene, que tem uma carreira dedicada ao estudo do concreto, em 2002, já estavam chegando ao Brasil, os aditivos super-fluidificantes. Estes aditivos foram fundamentais para se chegar a essa resistência porque eles apresentam baixa quantidade de água, deixando o concreto mais trabalhável, com facilidade de transporte e adensamento. “Se não tivéssemos esse aditivo, teríamos que colocar água e a água é o que diminui a resistência. Graças a esse aditivo, aos estudos de dosagem, a granulometria e a compactação, conseguimos concluir este projeto”, conta o representante da Poli-USP.
O Concreto de Alto Desempenho (CAD) é um material dosado com o intuito de proporcionar melhorias na durabilidade das estruturas. Comumente, limita-se o CAD como um compósito de elevada resistência mecânica. Entretanto, além disso, sua dosagem proporciona baixa porosidade, redução da permeabilidade de água e agentes agressivos, além da elevada resistência mecânica. Para atender essas necessidades, é comum que se faça adições minerais. Não há um consenso, mas para o concreto ser evidenciado como CAD espera-se que ele apresente um fck mínimo de 40 MPa.
Já o concreto convencional não apresenta essas características de resistências elevadas, justamente, por não necessitar desta superioridade. Concretos convencionais, atualmente, são aqueles com fck inferior a 40 MPa. Eles, ainda sim, são extremamente necessários e utilizados na maioria dos projetos estruturais.
O concreto elaborado pela Engemix com a consultoria de entidades referências para o setor chegou ao fck médio de 125 MPa e a um módulo de elasticidade também bastante significativo, apresentando 50 GPa. “Ele foi gerado dentro do laboratório da Engemix onde fomos somando experiências que foram agregando para chegarmos ao resultado desejado”, reforça Paulo Helene. “Nós temos um corpo de prova que chegou a 149 MPa e bateu o recorde mundial de concreto colorido, porque esse pilar ainda era colorido”, complementa Batlouni, da Tecnum.
Após superar o desafio da formulação, era preciso encarar o desafio logístico: realizar grandes concretagens em um local onde há trânsito e, além disto, evitar erros de aplicação de concreto tendo em vista que estavam sendo realizadas concretagens diferentes na mesma obra.
De acordo com o representante da Tecnum, a etapa de fundação onerou uma concretagem com muita qualidade e precisão de programação. Isso, porque, era preciso concretar 900 m³ em dois dias. Para atender essa solicitação, foram disponibilizados cerca de 130 caminhões-betoneiras da Engemix durante dois sábados. A decisão de concretar ao sábado foi primordial para gerar um menor impacto ao trânsito e para contar com a frota da Engemix dedicada à obra do E-Tower.
Além da questão logística, havia uma preocupação com relação à identificação do concreto. O concreto de alta resistência não se difere aparentemente de um concreto convencional e seriam realizadas concretagens de concretos convencionais em outras partes da obra.
Para que a equipe de canteiro de obra responsável por realizar as concretagens não misturasse os concretos ou errasse nas aplicações, a construtora decidiu colocar um pigmento vermelho no concreto de alta resistência, assim, o identificando de forma mais fácil e o tornando um concreto colorido. “Muitas vezes, tinha na mesma obra, duas frentes de concretagem. O concreto colorido nós sabíamos que era para a execução do pilar”, explica Jorge Batlouni.
Os desafios enfrentados na concepção do E-Tower foram importantes para a conquista de dois Prêmio Máster Imobiliário – criado em 1994 pela Fiabci-Brasil (Capítulo Brasileiro da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias) e o Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo), foi inspirado nos conceitos e critérios do Prix d'Excellence, entregue pela FIABCI Mundial durante seu congresso anual e considerado como uma das mais importantes premiações internacionais do setor imobiliário.
Um dos prêmios foi concedido por se tratar do melhor empreendimento na categoria “empreendimentos corporativos” e outro pelo “concreto de alta resistência”. “É um concreto realmente fantástico. Com módulo de elasticidade alta, resistência à compressão alta e durabilidade de mais de mil anos”, afirma Paulo Helene.
Para a cidade, a obra do E-Tower foi um marco no cenário corporativo, trazendo mais vida e pessoas aos negócios da região. “Este empreendimento é muito interessante, conta com mais de mil vagas de garagem, tem dois restaurantes, cafeteria, academia de ginástica e outros serviços. Ele trouxe muito para a cidade de São Paulo”, ressalta Jorge Batlouni.
Chegar à solução proposta, no entanto, foi uma tarefa que contou com a expertise de profissionais com capacidades diferentes e conhecimento técnico de alto nível. “A Engemix tem sempre uma postura de aceitar e encarar os desafios, além de valorizar a troca e participação de outros engenheiros. Essa abertura promove o avanço para o setor que é muito interessante”, complementa Paulo Helene.
Projeto: E-Tower | Localização: São Paulo (SP).
Materiais fornecidos: Concreto de Alto Desempenho com resistência média de 125 MPa e módulo de elasticidade médio de 50 GPa.
Desafios enfrentados:
FONTES UTILIZADAS
Jorge Batlouni, diretor da Tecnum;
Paulo Helene, consultor e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
EMPRESAS E INSTITUTOS: ENGEMIX; TECNUM.