Publicado por Votorantim Cimentos em 18/05/2022NBR 6122: os impactos da emenda à norma segundo Paulo Helene
Emenda à NBR 6122 incorpora novos conhecimentos e tecnologias do setor da engenharia civil, da construção e da concretagem.Créditos: istock

NBR 6122: os impactos da emenda à norma segundo Paulo Helene

O que diz o renomado professor da USP e engenheiro civil sobre as novidades da norma de projeto e execução de fundações

A NBR 6122, ou Projeto e Execução de Fundações, é uma das normas brasileiras de procedimento mais importantes para o setor da engenharia civil, da construção e da concretagem.


Em março deste ano, uma emenda à norma foi votada e aprovada, e, agora, a NBR 6122 conta com novas prescrições para os profissionais da área. 

Publicada pela primeira vez em 1986, a NBR 6122 recomenda parâmetros e orientações sobre os diversos processos e materiais que envolvem o setor de fundações. Apesar de ser prescritiva, ou seja, de possuir um caráter não obrigatório de aplicação, a norma segue critérios internacionais e é fiscalizada por times de especialistas da ABNT.

A revisão mais recente da norma aconteceu em 2019. Com a emenda de 2022, a NBR 6122 incorpora novos conhecimentos e tecnologias do setor, além de estar em consonância com as demandas atuais do mercado e socioambientais.


A emenda contempla vários pontos, desde tipos de ensaios, aplicação de concretagem até ensaios e tipos de solos e cargas. Entre as principais novidades está a recomendação do consumo mínimo de cimento para concretos de fundações, que passou de 400 kg/m3 para 350 kg/m3. A recomendação vale para as seguintes fundações: estacas escavadas com uso de fluido estabilizante, além de estacas hélice contínua monitorada, de deslocamento monitorada e monitorada com trado segmentado.

Sobre a emenda e outras questões que envolvem a NBR 6122, o Mapa da Obra entrevistou Paulo Helene, engenheiro civil e professor titular da Universidade de São Paulo. Confira!

Mapa da Obra: O que é e como funciona a norma NBR 6122? Como ela é aplicada no dia a dia do mercado da construção e da obra?

Paulo Helene: A normalização brasileira é feita por um critério que se chama “consenso voluntário”. A norma NBR 6122, como várias outras, é voluntária e prescritiva. Ela é muito usada, porque praticamente todas as obras de engenharia civil têm fundações.


A norma é importante para organizar, nivelar e estabelecer um patamar de qualidade para quem projeta, para quem constrói, para quem fornece o material e, também, para quem contrata.

A maioria dos consultores, dos construtores e das empresas que fornecem o concreto procura seguir essa norma. Mesmo que ela seja voluntária, de alguma maneira você está protegido, porque está usando um critério de consenso.

[A NBR 6122] é usada, também, como um referencial para as contratações, de maneira que, quando uma empresa contrata o serviço de fornecimento de concreto com uma empresa de serviço de concretagem, é tomada como referência a norma. 

MDO: Por que a NBR 6122 foi atualizada a partir da votação da emenda?

PH: O Brasil tem um convênio com a ISO (International Standard Organization), de normalização internacional. A ABNT é uma associada da ISO e deve seguir as orientações de que as normas sejam renovadas a cada cinco anos. É natural, porque o conhecimento das áreas industrial, tecnológica e de ciências aplicadas evolui com o tempo.


Como a maioria das fundações faz referência ao concreto, ele é uma parte importante dessa norma. Percebeu-se nos últimos anos que havia a necessidade de mudar e de atualizar os parâmetros relativos ao concreto, que já estavam superados e não correspondiam mais à prática do que vínhamos fazendo e nem ao desenvolvimento tecnológico do país.

A nossa engenharia de concreto tem padrão internacional e a norma estava atrasada. Quando a norma, apesar de não ser obrigatória, conflita com o desenvolvimento, a gente tem que mudar, porque ela tem que refletir o estágio de desenvolvimento do país. É por isso que nós estávamos em uma comissão, já há algum tempo, revisando esses parâmetros.

MDO: Você acredita que a atualização da NBR 6122 deixa os processos mais seguros e credíveis?

PH: Eu vejo que essas atualizações exigem mais do engenheiro, o que é muito bom. Um engenheiro está formado para fazer engenharia, para aplicar seus conhecimentos. Essa maneira de trabalhar exige mais competência, mais estudo e mais dedicação tanto de quem está produzindo (engenheiro da indústria que fornece materiais) quanto daquele que é de obras, de execução, de projetos.

Essa mudança foi fundamental, porque permitiu mais liberdade para aqueles que têm competência de exercer e que conhecem a engenharia para produzir um produto melhor.

MDO: A emenda à NBR 6122 atualizou o consumo mínimo de cimento para concretos de fundações. Por que isso aconteceu e o que se espera?

PH: A norma, por ser prescritiva, dava alguns valores para o concreto atender, alguns parâmetros de dosagem. Em uma linguagem leiga, podemos fazer um paralelo do concreto com uma receita de bolo. Assim como um bolo tem ovo, farinha, leite, o concreto também tem o cimento, a areia, a pedra, o aditivo, o misturador, a betoneira que transporta… Tudo isso interfere no resultado final!

Na realidade, a NBR 6122 estava cerceando a possibilidade de usar menos cimento, que é um insumo importante para o concreto. Ela pedia bastante cimento, 400 kg/m3, e isso estava superado. A gente conseguia e consegue fazer com bem menos e isso é uma vantagem! O avanço da tecnologia veio a favor do planeta, da economia, do consumo de materiais, do meio ambiente, [da redução] da emissão de carbono.

Já que somos capazes de fazer um concreto que atende às necessidades da fundação usando menos insumo de cimento, precisamos mudar a norma. Houve uma melhora do produto industrial em si, do conhecimento dos processos de dosagem, dos equipamentos de mistura e de transporte que permitiu que a gente fizesse isso.

São resultados de pesquisas: fomos olhar a normalização internacional, foram feitas pesquisas experimentais, pesquisas de campo, estudos de laboratório… Houve uma retaguarda que permitiu que a gente fizesse uma modificação justificada [na norma] do ponto de vista teórico, social, ambiental e, principalmente, técnico, prático e de execução.

O usuário final fica igualmente bem servido, o produto final é mais amigável ao meio ambiente e a execução não muda. Só se exige que os envolvidos e intervenientes conheçam mais da tecnologia.

MDO: A atualização da NBR 6122 entrou em vigor no começo deste ano. O que você viu, na prática, de mudanças nas obras? Esse mercado já sente o impacto ou ainda é muito recente para prever?

PH: É pouco tempo para dizer que houve uma mudança, mas pode-se dizer que o resultado é positivo. A gente projeta o futuro, o material, a construção para que ela dure 50, 100 anos, imaginando os processos degenerativos com o passar do tempo. A expectativa, por toda a teoria que a gente usa, é que eu imagino que nós não vamos ter nenhum tipo de problema. Ao contrário, vamos ter benefícios para a sociedade nessa situação nova, com mais tecnologia.

Desta forma, a atualização da norma traz benefícios para toda a cadeia da engenharia civil, visando modernizar os parâmetros de controle dos concretos de fundações, melhorando a sustentabilidade (com a redução da emissão de carbono) e ofertando maior segurança, transparência e desempenho.

Para conferir mais novas técnicas da construção acesse: https://www.mapadaobra.com.br/capacitacao/normas-tecnicas-da-construcao-2022/

Compartilhe esta matéria
22251

Mais lidas

Veja também

X