
Metodologia BIM 2021: quais as mudanças para o setor de infraestrutura
Ao implementar a regra, governo está pavimentando o avanço da tecnologia construtiva.
O uso do conceito do Building Information Modelling (BIM), ou Modelagem da Informação da Construção, dentro da Engenharia e Arquitetura já traz, por si só, um grande avanço em relação a quem não faz seu uso para questões relacionadas a produtividade. A integração do BIM com outros sistemas colaborativos gera um ambiente de trabalho ainda mais organizado, indo além da eficiência do projeto a ser entregue. O BIM envolve ainda a utilização de métodos ágeis que possibilitam maior organização entre as equipes envolvidas e o cliente, o que agrega maior valor ao produto e também entregas com maior qualidade, além disso, a redução de custos da obra.
De acordo com Thelmo Ghiorgi, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI), a entrada da metodologia BIM e a sua utilização em obras públicas será o começo de uma mudança muito positiva e a sua adoção no país é crescente, apesar do setor da construção estar muito atrasado se comparado aos outros setores com relação à tecnologia 4.0 aplicada em outros países. Esse tema está começando a ser discutido agora e as empresas estão olhando para isso a fim de aumentar a velocidade de incorporação dessas tecnologias na construção civil. “Então, quando o Governo implementa a regra, ele está pavimentando o avanço da tecnologia construtiva. Essa adoção vai produzir efeitos muito positivos no futuro e abre precedente para as empresas incorporarem BIM e outras tecnologias que podem ser favoráveis para a construção civil no país”, destaca. Ainda segundo o especialista, cada vez mais, os governos em conjunto com diversas organizações, estão percebendo que aplicar essa mudança tecnológica na construção civil pode gerar inúmeros benefícios.
É percebido, por exemplo, que os países líderes na adoção do BIM estão nos primeiros lugares da “Networked Readiness Index” – pesquisa realizada pelo World Economic Forum que mede a capacidade das nações de aproveitar as oportunidades oferecidas pela tecnologia de informação e comunicação. Dessa forma, é compreensível que haja a urgência e o desejo de implementar uma nova maneira de projetar e gerenciar ativos. “Essa transição pode ser difícil e trabalhosa, pois dentro da metodologia são criados diversos documentos que podem ajudar em sua adesão, e um deles é o BIM Mandate”, ressalta. Alguns desses instrumentos têm como fundamento contemplar o que precisa ser apresentado e como deve ser feita a modelagem, além de definir por quem será realizada e até quando precisa ser entregue. “Em outros, estão descritas quais informações serão necessárias, bem como o nível de detalhamento e desenvolvimento necessário para a sua execução, além da organização das fases do projeto e os processos nele contidos”, complementa.
BIM aplicado em projetos de infraestrutura
Segundo dados da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) é possível utilizar a plataforma BIM em cada etapa do processo de projeto atendendo às orientações da NBR 16.636-2 (que discorre sobre a execução de um projeto arquitetônico para as edificações). Tal norma estabelece duas fases de projeto: a primeira é a fase de preparação, dividida em quatro etapas, e a segunda fase já corresponde ao momento de elaboração e desenvolvimento de projetos técnicos. O projeto básico é de elaboração e coordenação de um modelo 3D compatibilizado e consolidado nos níveis de desenvolvimento estabelecidos com a estrutura (tanto infraestrutura quanto superestrutura) e instalações já modeladas, bem como a análise da coordenação, compatibilização e consolidação desses modelos. Nessa fase, o nível de desenvolvimento do modelo ganha uma maturidade grande e os documentos do projeto – cortes, plantas, fachadas e outros detalhes – podem ser extraídos do modelo, além dos quantitativos exatos contribuindo para a elaboração do orçamento detalhado e preciso.
Falando especificamente da utilização de BIM para obras de infraestrutura, atualmente já existem projetos em diversos segmentos, como exemplo: a aplicação para projetos de sistemas de abastecimento de água, tratamento e coleta de esgoto e sistemas de drenagem urbana. Para esse tipo de projeto é necessária a integração de ferramentas GIS (Sistema de Informação Geográfica) que apresentam informações impactantes para a proposição de melhores soluções técnicas, econômicas, sociais e ambientais. Com isso, é possível utilizar instrumentos de análise de cenários e viabilidade, orientados para propostas que atendam as condições legais. Outras obras lineares em que também podem ser aplicadas as ferramentas BIM, são as linhas de transmissão, os oleodutos, os gasodutos, sistemas de adução de água, projetos de macrodrenagem entre outros.
Para Thelmo, a aplicação do BIM não é um assunto muito claro ou bem definido, mas o Brasil é um país que ainda tem produtividade média em relação aos países avançados, se encaixando em países emergentes que correspondem a esse nível. São três fatores que contribuem simultaneamente para essa baixa produtividade:
1- Formação de recursos humanos, pois temos uma formação que deixa a desejar, embora tenhamos cursos e profissionais muito bons, existe a deficiência de mão de obra;
2- Falta de Máquinas e equipamentos ou tecnologias avançadas para a execução;
3- Os próprios sistemas de gestão e organização que deixam a desejar, principalmente, com relação as políticas públicas, pois nem sempre as leis são favoráveis ao aumento da produtividade. “O setor de infraestrutura é uma área em que o país pode recuperar o atraso. O BIM é decisivo para que o Brasil dê esse salto com relação a produtividade. Não é condição prioritária, mas é extremamente necessária”, ressalta.