Publicado em 01/10/2013Manoel Henrique Campos Botelho fala sobre planejamento de obras

Manoel Henrique Campos Botelho fala sobre planejamento de obras

É preciso levar o imprevisível em conta, na hora de elaborar o cronograma, com folga de 30%

O engenheiro Manoel Henrique Campos Botelho, formado em 1965 pela Escola Politécnica da USP, é autor do livro “Concreto armado, eu te amo”, e de mais onze títulos. Dedica-se a pesquisas e apresentações de palestras sobre inovações no ensino da Engenharia Civil. Em entrevista ao Mapa da Obra, o engenheiro fala sobre os desafios inerentes ao planejamento de obras.

Mapa da Obra – O senhor afirma que “se um empreendimento está a 90% de sua conclusão, então, com absoluta certeza, falta fazer ainda uns 20% ou 30% do trabalho”. Qual o significado disso?
Manoel Botelho – Quero dizer que o planejamento de obras na construção civil deve levar em conta vários fatores imprevisíveis. A minha experiência mostra dezenas de situações que fogem ao controle da previsão, acarretando adiamento de prazos. O incrível é que todo mundo sabe que o imprevisível pode acontecer. No entanto, por uma questão cultural, esse fator não é levado em conta na hora de elaborar o cronograma. Deve ser prevista uma folga de 20% a 30% nos prazos, para que o cronograma realmente se aproxime do tempo real de execução.

Mapa da Obra – O fato de “números não fecharem” é um problema típico da engenharia?
Manoel Botelho – Sim. O mundo do projeto e do planejamento de obras é algo previsível, mas a execução das obras é imprevisível. Comparemos a construção de uma ponte e o trabalho de uma fábrica de parafusos. Na fábrica de parafusos a matéria-prima é controlada, o processo de fabricação é padrão, a mão de obra tem no mínimo cinco anos de casa e, portanto, experiência e vínculos com a fábrica. Fica claro que a previsão de produtividade desta fábrica, em função do tempo, parece ter enorme grau de certeza, quando comparada à de uma obra civil.

Mapa da Obra – Quais são as principais imprevisibilidades?
Manoel Botelho – Poderíamos citar dezenas delas. As mais comuns são atraso de entrega de materiais, refeitura de serviços, problemas com mão de obra (conflitos entre funcionários e ações judiciais de causas trabalhistas), paralisação de obras por reclamações de vizinhos, além de fatores climáticos, como chuvas de duração inesperada. Há também fatos surpreendentes como a descoberta de lençol freático não detectado na inspeção inicial, ou de patrimônio histórico enterrado.  Esses e outros problemas podem ser enfrentados com uma interpretação flexível de cronogramas.

Mapa da Obra – O senhor poderia citar um exemplo prático de imprevisto além dos fatores mais comuns a influenciar o prazo de entrega da obra?
Manoel Botelho – O caso das pepitas de ouro [massa do metal em estado nativo] ultrapassa qualquer possibilidade de previsão: uma obra ia muito bem, quando o aumento repentino das chuvas espantou 80% da mão de obra contratada, que passou a faltar no trabalho.

O motivo, no entanto, não era a chuva forte, que até tinha sido prevista. A região onde se executava a obra era aurífera, e com as chuvas apareciam  pepitas de ouro nos rios, fazendo com que todos preferissem o garimpo aos trabalhos no canteiro.

Pega de concreto programada pode colaborar com planejamento da obra

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