
Fernando Maculan dá dicas para realizar bons projetos
Para o arquiteto Fernando Maculan, um bom projeto deve atender à demanda do cliente
O arquiteto Fernando Maculan já recebeu prêmios no Brasil, Bélgica e China, e teve projetos expostos no Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, Itália, Coreia do Sul e Japão. Ao longo de 2004 e 2005 trabalhou na Itália, Reino Unido e no Japão. Sua obra, quase sempre fruto de processos multidisciplinares e colaborativos de criação, é fundamentada na elaboração de conceitos coerentes com as especificidades de cada lugar, na interpretação criteriosa do público envolvido, e na pesquisa e emprego de materiais, técnicas e tecnologias adequadas. O resultado é a inclusão da diversidade, e a não linearidade, na forma de seu trabalho.
Junto da arquiteta Mariza Machado Coelho, Maculan tem se dedicado a projetos para instituições culturais como museus, galerias e centros de referência, entre outros de variadas escalas e naturezas. O lugar de convergência destas atividades é o escritório da MACh Arquitetos.
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Mapa da Obra – Como se reconhece a boa arquitetura? Do que ela é feita hoje?
Fernando Maculan – A pergunta é ampla. Para respondê-la, é preciso entender que uma obra responde a demandas como clima, topografia e outras condicionantes de projeto. É preciso ver como ela foi inserida nesse contexto. A topografia é o primeiro fator a colaborar na formatação do bom projeto. Minha maior preocupação sempre é mexer o mínimo possível no terreno. Tudo está inter-relacionado às dimensões física e humana do caso em estudo.
Mapa da Obra – Que elementos a criatividade não deve deixar passar?
Maculan – O arquiteto deve ouvir o cliente com atenção, o que permite um processo de concepção do espaço feito “de dentro para fora”. Em segundo lugar, é importante estar aberto à contribuição que os demais projetistas de engenharia podem trazer para a obra. A criatividade é reflexo direto da pessoa que cria os projetos, influenciada por suas vivências externas. Na Casa PL, projeto realizado em Minas Gerais, era clara a intenção de fazer da casa uma espécie de praça para receber amigos, que fosse próprio para o convívio. Soubemos identificar isso no cliente. Fazer um projeto de sucesso resulta da troca de confiança entre o cliente e o arquiteto.
Mapa da Obra – Quais as grandes dificuldades do arquiteto projetista hoje em dia: encontrar novos materiais e tecnologias ou propor ideias a clientes que tem acesso cada vez maior a informações?
Maculan – Não vejo nenhuma destas situações como dificuldade. Os materiais, técnicas e tecnologias têm se tornado mais diversos e acessíveis, e há grande difusão de informação sobre arquitetura em sites especializados – também muito procurados pelo público em geral. Tudo isso contribui para a ampliação do diálogo entre cliente e arquiteto, com abertura à possibilidade de diversas soluções arquitetônicas.
Mapa da Obra – Será que esse acesso mais generalizado às informações especializa, qualifica o cliente, ou serve apenas para padronizar gostos e vontades, engessando assim a criatividade do projetista?
Maculan – Em geral, creio que o acesso à informação favorece a diversidade. É papel do arquiteto, no entanto, filtrar os materiais, técnicas e soluções construtivas que sejam mais adequados a um determinado contexto. Hoje somos bombardeados por imagens em revistas de arquitetura e decoração, mas muitas vezes essas soluções não atendem à realidade do lugar onde a casa será projetada (clima, ventos, topografia). Ou seja, uma solução encontrada para uma casa no sul do país, onde o inverno é rigoroso, dificilmente é boa opção para uma casa no nordeste, onde o clima é quente o ano inteiro. Nosso papel é ajustar o sonho à realidade, adotando as melhores soluções caso a caso.
Saiba quando alterações no escopo do projeto são realmente necessárias e condições plausíveis para que isto aconteça.