
Como a temperatura afeta o tempo de pega do concreto
Controlar os efeitos das variações térmicas no concreto é essencial para prevenir falhas de execução e atrasos na obra.
Alguns fatores influenciam no tempo de pega do concreto, e um dos mais importantes é a temperatura, por ser variável e afetar diretamente o material.
Por isso, para que o projeto e a execução de uma obra tenham maior durabilidade, qualidade e segurança, é fundamental conhecer sobre as variações térmicas ambientais.
Neste artigo, entenda o que é o tempo de pega, quais fatores impactam esse processo e como controlar os efeitos da temperatura no concreto.
O que é o tempo de pega do concreto?
O tempo de pega é o intervalo em que o concreto passa do estado plástico (quando ainda é maleável) para o estado sólido.
Duas fases marcam esse processo: o início e o fim de pega. Confira as principais características e diferenças de cada uma!
Início de pega
Ocorre quando o concreto começa a perder trabalhabilidade e liberar calor devido ao processo de hidratação do cimento. É o momento em que se inicia a rigidez do material.
A partir do início de pega, o lançamento, a compactação e o acabamento do concreto se tornam mais difíceis.
Fim de pega
É quando o endurecimento do concreto tem início de fato. Nesse ponto, o material já adquiriu rigidez suficiente para suportar pequenas cargas.
Fatores que influenciam o tempo de pega do concreto
A temperatura ambiente é uma variável importantíssima para o tempo de pega do concreto, mas outros fatores também podem influenciar esse processo:
- Tipo e composição do cimento: cimentos com alto teor de C₃A (aluminato tricálcico) têm pega mais rápida, enquanto cimentos com adições minerais (como escória granulada de alto-forno ou pozolana) tendem a retardar o tempo de pega.
- Proporção entre água e cimento: mais água na mistura retarda a pega do concreto, enquanto menos água a acelera.
- Uso de aditivos na mistura: aditivos aceleradores podem reduzir o tempo de pega, enquanto retardadores prolongam a trabalhabilidade do concreto.
- Umidade do ambiente: locais secos aceleram a evaporação da água e podem antecipar o tempo de pega.
Efeitos das temperaturas extremas no concreto
Temperaturas elevadas (> 30°C)
Quando o calor é intenso, as reações de hidratação do cimento acontecem mais rapidamente. Isso antecipa o início de pega e reduz o tempo disponível para manuseio do concreto. Consequências comuns incluem:
- risco de fissuras por retração plástica;
- maior dificuldade no adensamento e acabamento;
- aumento da temperatura interna do concreto, que pode comprometer a durabilidade da estrutura.
Temperaturas baixas (< 15°C)
Por outro lado, o frio desacelera as reações de hidratação, prolongando o tempo de pega. Em temperaturas abaixo de 10°C, o início de pega pode ser significativamente retardado ou, até mesmo, paralisado. Isso pode ocasionar:
- atraso no endurecimento, mesmo com uso de aditivos aceleradores;
- em casos extremos, risco de congelamento da mistura, comprometendo a cura e a resistência inicial;
- necessidade de aquecer o ambiente em torno da peça concretada para auxiliar no endurecimento.
Além dos efeitos diretos no tempo de pega, é essencial garantir uma boa cura do concreto em qualquer condição térmica, evitando fissuras e perdas de desempenho.
Em climas frios, o aquecimento do ambiente deve ser feito com cuidado para não gerar choques térmicos. Mesmo com o endurecimento mais lento, o concreto pode apresentar boa resistência no longo prazo.
Por fim, também é interessante considerar possíveis remanejos ou alterações no cronograma da obra, caso a amplitude térmica seja um fator relevante.
Impactos práticos na obra
As variações térmicas não afetam apenas o tempo de pega do concreto, mas as etapas de execução e o desempenho final da estrutura.
Entenda quais desafios podem ocorrer no canteiro de obras devido à temperatura:
Dificuldade de adensamento e acabamento
Em temperaturas quentes, o concreto endurece mais rápido, dificultando o tempo disponível para adensar corretamente e dar acabamento à superfície.
Maior tempo de desforma
Já em temperaturas baixas, o ganho de resistência inicial é mais lento, exigindo um tempo maior até que o concreto atinja a resistência mínima para a retirada das fôrmas.
Risco de perda de aderência entre camadas
Se houver demora entre lançamentos espaçados, a camada anterior pode começar a endurecer, dificultando a aderência com a camada seguinte.
Maior incidência de fissuras
Sem um controle de cura adequado, a evaporação rápida da água compromete a hidratação do cimento, favorecendo o surgimento de fissuras por retração.
Como controlar os efeitos da temperatura no concreto?
Algumas ações podem ajudar a controlar os efeitos da temperatura no concreto, variando para climas quentes e frios. Saiba como lidar com cada tipo de temperatura:
Climas quentes
- Utilize aditivos retardadores de pega.
- Resfrie a água e agregados antes da mistura.
- Realize as concretagens em horários mais frescos, como início da manhã ou fim da tarde.
- Intensifique os cuidados com a cura úmida, evitando evaporação rápida.
Climas frios
- Use aditivos aceleradores de pega.
- Proteja fôrmas e armaduras do frio.
- Utilize mantas térmicas ou sistemas de aquecimento para manter uma temperatura mínima adequada.
- Garanta uma cura térmica controlada, evitando a secagem precoce ou congelamento.
O desempenho do concreto está diretamente ligado às condições climáticas em que ele é produzido, lançado e curado. Compreender como o material se comporta diante das variações de temperatura é essencial para prevenir falhas de execução, como fissuras, perda de resistência e atrasos na obra.
Adotar estratégias específicas para climas quentes ou frios, associadas ao controle rigoroso da cura, garante maior durabilidade, segurança e qualidade nas estruturas de concreto, mesmo em condições climáticas adversas.
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Autor: Lucas Onghero – Consultor DTM TEC – Votorantim Cimentos