Publicado em 06/12/2016Desplacamento de cerâmicas preocupa construtoras
Pesquisa revela que 100% dos casos de desplacamento ocorreram com cerâmicas fabricadas por via secaCréditos: Joe Ferrer/shutterstock.com

Desplacamento de cerâmicas preocupa construtoras

Em amostragem que considerou 87 construtoras de todo o Brasil, casos de desplacamento de cerâmicas foram registrados em obras de 20,7% delas

Desde 2012, construtoras de todo o país estão enfrentando um grave problema: placas cerâmicas assentadas em paredes internas e externas de empreendimentos em construção ou já entregues estão descolando e caindo. Em São Paulo, os primeiros relatos de descolamento cerâmico reportaram ocorrências com peças produzidas entre 2010 e 2011. Porém, foi no final de 2014 e início de 2015 que os casos cresceram e chamaram a atenção de outros Estados.

Em amostragem que considerou 87 construtoras de todo o Brasil, casos de desplacamento cerâmico foram registrados em obras de 20,7% delas. De acordo com pesquisa realizada pela empresa Neoway Criactive por encomenda do SindusCon-SP, o problema ocorre em até dois anos (81,4% dos casos) contados a partir do assentamento e 100% dos casos ocorreram com cerâmicas fabricadas por via seca.

Durante o workshop Estudo de Caso: Desplacamento de Revestimento Cerâmico Interno, realizado pelo SindusCon-SP, Rafaele Fernandes, representante da empresa de pesquisa, explicou que a finalidade do levantamento foi buscar dados que permitissem entender os meios pelos quais se manifesta a patologia e mensurar a dimensão dos problemas.

Yorki Stefan, coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, comentou que há casos de empreendimentos com andares inteiros executados pelo mesmo operário, nos quais os problemas ocorreram apenas em uma prumada. “Isso evidencia que a causa não é a mão de obra”, disse. À mesma conclusão chegou Fabio Villas Bôas, coordenador do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP (Comasp). “Descartamos a mão de obra porque não é possível que errem em 100% das vezes”, ponderou. Qualquer que seja o sistema envolvido, quando patologias acontecem é importante isolar as variáveis que podem ser a causa do problema, explicou o consultor Gilberto de Ranieri Cavani. “Um sistema se comporta como uma corrente”, disse, em alusão à importância de todos os elos contribuírem para que a resistência esperada seja atingida.

Até o momento, a única variável que parece se manter constante diz respeito ao método de fabricação das placas cerâmicas: 100% dos casos de desplacamento ocorrem com cerâmicas fabricadas por via seca. Entretanto, apesar dessa evidência, os especialistas recomendam cautela e afirmam ser imprescindível que a avaliação seja sistêmica, considerando construtoras, ceramistas, argamassas e demais variáveis. Cavani lembrou que, às construtoras “não interessa o processo de fabricação, mas o comportamento do produto aplicado”. De qualquer maneira, contou ter observado placas cerâmicas com diferentes tempos de queima que apresentaram desempenho destoante entre elas.

“Aquelas com ciclo de queima maior apresentaram baixa EPU [Expansão por Umidade], o que melhora o desempenho”, observou. Conforme pontuou Roberto José Falcão Bauer, diretor técnico do Grupo Falcão Bauer, a EPU se manifesta em todo o material, sendo importante atingir os parâmetros de norma. “A resistência para qualquer elo do revestimento tem que ser de 0,3 MPa”, pontuou.

O engenheiro Fabio Villas Bôas, coordenador do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP (Comasp) relata que os primeiros casos, isolados, de desplacamento cerâmico na Tecnisa, da qual é diretor técnico, ocorreram por volta de setembro de 2014. Entretanto, em meados de 2015 houve aumento na incidência desse tipo de patologia. “O problema começava a se manifestar já na limpeza do imóvel para entrega, quando jogávamos água no revestimento”, afirma.

Atualmente, a patologia é generalizada, com placas de todas as fiadas destacando, por inteiro e geralmente sem nenhuma argamassa aderida no verso. “Em um empreendimento em Curitiba, 40 apartamentos foram afetados num final de semana de grande variação térmica”, revelou. Além do prejuízo de imagem, Villas Bôas afirmou que, especialmente no caso de apartamentos já ocupados, o processo de refazimento é bastante complicado.

Isso porque envolve uma programação logística delicada, com transtornos significativos para os clientes, e valores elevados, de aproximadamente R$ 10 mil por unidade para embalar e retirar móveis, proteger outros ambientes e, em alguns casos, hospedar os moradores em hotéis durante a reforma, que leva de sete a dez dias para a conclusão. “O prejuízo financeiro é relevante, mas a exposição negativa das empresas é muito mais grave,” alertou. Com base em estudo realizado na empresa, ele afirmou que o substrato não é determinante, pois há desplacamento de cerâmica assentada sobre elementos estruturais de concreto, blocos de vedação de alvenaria e concreto e, inclusive, sobre fechamentos em gesso.

A incidência de problemas com esse último substrato evidencia, diz Villas Bôas, que o problema não se deve a eventuais movimentações estruturais que estariam afetando paredes confinadas, pois o drywall se fixa a uma estrutura metálica independente. A influência do formato dos revestimentos também foi descartada, pois, peças com as mais variadas dimensões têm se soltado. “As que ainda não se soltaram vão se soltar, pois elas perdem aderência ao longo do tempo e o som cavo se alastra”, contou. Ele também questiona as suspeitas acerca do tempo em aberto da argamassa, pois mesmo a primeira placa assentada se solta, sendo pouco provável que o operário fique esperando 12 minutos antes de assentar a primeira peça.

Conclusões da pesquisa encomendada pelo SindusCon-SP

  • 20,7% das construtoras pesquisadas identificaram desplacamento dos revestimentos cerâmicos internos nas paredes de suas obras;
  • A tipologia de estrutura foi identificada entre alvenaria estrutural e concreto armado convencional;
  • 46,8% do tipo de base utilizada para a aplicação da cerâmica foi direto no bloco, outros 44,2% em revestimento de argamassa;
  • Em 100% dos casos pesquisados o processo de fabricação da cerâmica é por via seca.
  • Houve uma grande variedade de modelos e dimensões da cerâmica;
  • As argamassas AC II e AC I são utilizadas em proporções similares, sendo ambas em 49,3% das obras;
  • Houve desplacamento em 509.296,03 m² de revestimento interno das paredes;
  • Em geral, o desplacamento ocorre até o segundo ano após a aplicação da cerâmica (81,4%).

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