Publicado em 02/04/2015Concreto que inova

Concreto que inova

Em Santiago do Chile, monólito de concreto tem arquitetura sólida, imponente e atemporal

A arquitetura chilena tem se destacado por desenvolver verdadeiros ícones urbanos. Seja pelo talento de seus arquitetos, seja por uma necessidade de transpor os riscos geofísicos constantes, como tremores de terra, o fato é que seus produtos têm revelado não apenas enorme solidez e segurança, como também muita criatividade e beleza. É assim o Centro de Inovação Anacleto Angelini, em Santiago, assinado por Alejandro Aravena, diretor do escritório Elemental. O arranha-céu fica em zona comercial, e aparece como imensa caixa-forte de concreto armado aparente.

Seus recortes volumétricos, o uso recuado de fechamentos em vidro e uma cobertura metálica de fachada contribuem para a percepção visual de um edifício exclusivamente de concreto. O cliente queria um centro de inovação de aparência contemporânea. Resultado de uma parceria entre empresas privadas no Chile e a Pontifícia Universidade Católica, seus andares serviriam de abrigo a empresas incubadas – o que só reforçou a ideia de relacionar a arquitetura à criatividade científica, para desenvolver o conceito.

Por outro lado, seguir na contramão dos grandes edifícios comerciais envidraçados parecia uma grande vantagem térmica, em país tropical, principalmente onde o calor é desértico. “As torres de vidro têm apresentado sérios problemas de efeito estufa e aumento dos custos com refrigeração de ar”, diz o projetista.

A solução para o Centro de Inovação Anacleto Angelini foi deslocar a massa do edifício para seu perímetro, recuando planos de vidro para evitar radiação solar direta, e permitir ventilação cruzada. Ao fazer isso, passou-se de 120 kw/m²/ano (consumo de uma típica torre de vidro no Chile) para apenas 45 kw/m²/ano gastos com a refrigeração. “Com a massa deslocada para o perímetro em concreto, foi o núcleo do edifício que ficou aberto e permeável”, diz.

Além da eficiência térmica, a fachada opaca ajuda a filtrar a luz muito forte, dispensando o uso de cortinas e persianas nos ambientes internos.

“Geometria rigorosa e materialidade monolítica foram os meios que utilizamos para substituir o modismo pela atemporalidade. O Centro de Inovação é um prédio de arquitetura que, com o passar do tempo, não se tornará obsoleta”.
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  • Centro de Inovação Anacleto Angelini, em Santiago do Chile, tem projeto de Alejandro Aravena, Juan Cerda, Gonzalo Arteaga, Víctor Oddó e Diego Torres – todos arquitetos da Elemental. Colaboraram ainda: Samuel Gonçalves, Cristián Irarrázaval, Álvaro Ascoz, Natalie Ramirez, Christian Lavista, Suyin Chia e Pedro Hoffmann. O projeto foi desenvolvido entre 2011 e 2012, com execução entre 2012 e 2014. Os custos totais são avaliados em US$ 18 mi. Área total construída: 8.176m2 (uso comercial) e 12.494 m2 (estacionamentos) - Foto: Nina Vidic
  • Em edifícios convencionais, espaços de encontro tendem estar apenas no térreo. Assim, no caminho entre o hall de entrada até seus locais de trabalho, usuários não veem e não sabem o que outras pessoas estão trabalhando ou fazendo. No Centro de Inovação, Alejandro Aravena propõe a multiplicação de lugares de encontro por todos os níveis do prédio, a partir de janelas recuadas de pé-direito triplo, e praças elevadas. Em Santiago do Chile - Foto: Nina Vidic
  • O edifício tem sua estrutura organizada pela própria fachada, com algumas linhas de pilares no seu interior, a maioria organizada em torno de um vazio central. “Com a massa deslocada para o perímetro de concreto, foi o núcleo do edifício que ficou aberto e permeável”, diz o projetista Alejandro Aravena. Além de alguma eficiência térmica, a fachada opaca ajuda a filtrar a luz muito forte, dispensando o uso de cortinas e persianas nos ambientes internos - Foto: Víctor Oddó
  • Ao fundo do Centro de Inovação, em Santiago do Chile, os Andes. A fim de desenvolver uma arquitetura atemporal, que não se tornasse ultrapassada e obsoleta com o passar do tempo, os arquitetos da Elemental pensaram num monólito de concreto, com poucas aberturas visíveis. A atemporalidade provém da relação do objeto sólido, como uma pedra, quase natural, alinhado às montanhas - Foto: Nina Vidic
  • Computadores das áreas de trabalho possuem luz própria; assim, as salas não precisam tanto de luz natural – nem artificial. Em países de clima desértico, como é o caso do Chile, o recuo de grandes janelas (pé direito triplo), combinado com uma arquitetura massiva em concreto armado, serve para buscar a “penumbra ideal”, e não a iluminação ideal. Além de um maior conforto térmico, porque sombreado, economiza-se eletricidade com refrigeração e lâmpadas – apesar de sombreado, a luz natural que penetra nas salas é suficiente para seu uso habitual, e sem a necessidade de cortinas e persianas. Por Alejandro Aravena, do Elemental - Foto: Nico Saieh
  • O concreto pode não ser o melhor ou o mais eficiente isolante térmico, mas funciona bem, quando conjugado ao átrio central (vazio) do edifício e às grandes janelas recuadas – o efeito é de uma boa ventilação cruzada, e proteção contra raios solares. Ou seja, a eficiência resultante é muito maior se comparada à das fachadas completamente envidraçadas. O Centro de Inovação Anacleto Angelini, em Santiago do Chile, tem projeto de Alejandro Aravena - Foto: Nico Saieh
  • Ao introduzir um átrio permeável no núcleo do volume do Centro de Inovação, em Santiago, a circulação é totalmente aproveitada para a comunicação visual entre alas opostas de um mesmo pavimento, ou até mesmo entre pavimentos distintos. “Aproveitamos a circulação vertical como uma oportunidade de saber o que se passa no interior do edifício”, diz o projetista da Elemental, Alejandro Aravena. Essa ideia de transparência se contrapõe ao bloco monolítico, em concreto - Foto: Nico Saieh
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