Publicado em 02/09/2016Concretagem submersa exige soluções adequadas
Quando usado em obras submersas, o concreto não pode se misturar à água ou solo, portanto, deve ser bastante coeso

Concretagem submersa exige soluções adequadas

Concreto deve ser coeso quando usado em ambientes subaquáticos

Construir pontes, barragens ou outras estruturas localizadas parcial ou totalmente dentro da água exige o trabalho de concretagem submersa. “A ação é sempre necessária quando estão abaixo do nível da água – doce ou salgada – estruturas como fundações do tipo tubulação, barragens, paredes-diafragma, blocos de fundação de pontes e píeres, tubulações e contenções, entre outras”, afirma o engenheiro Bernardo Tutikian, doutor em Engenharia Civil e diretor de Eventos do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon).

O método mais utilizado para execução da concretagem submersa tem o auxílio de uma tubulação conhecida como tremonha. Com formato de pirâmide invertida, a tremonha leva o concreto até a parte inferior da fôrma, que vai sendo preenchida de baixo para cima, até transbordar. “Para evitar a mistura de solo, lama ou água com a argamassa, pode-se utilizar a lama betonítica, que preenche o espaço, mas ainda assim permite a entrada do concreto”, explica Tutikian. A primeira camada de concreto que entra em contato com a lama betonítica deve ser desprezada através do transbordamento de certa quantidade de material.

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A técnica do concreto submerso com tremonha começou a se popularizar no Brasil à época em que a ponte Rio-Niterói foi construída, no final da década de 1960. Outro método de execução é a concretagem submersa injetada. “Nesse processo, as fôrmas recebem a brita e as ferragens. Na sequência, é injetada por pressão a nata de cimento pura nos espaços da brita”, detalha o engenheiro Aleixo Belov, superintendente da Belov Engenharia. Esse procedimento pode ser usado em diferentes casos, por exemplo, em regiões muito rasas, áreas em que a obra sofre com a força das ondas ou em locais de difícil acesso aos equipamentos de maior porte.

“Na concretagem submersa injetada, depois que a fôrma é retirada, a estrutura de concreto fica semelhante a uma peça de mármore, sem vazio nenhum”, ressalta Belov, dizendo que a alta qualidade pode ser explicada pelo fato de a nata de cimento preencher perfeitamente todos os vazios da brita e proteger completamente a ferragem. “Com isso, a estrutura subaquática pode durar 100 anos”, complementa.

A concretagem submersa injetada também pode ser aproveitada no reparo ou na recuperação de estacas danificadas pela ação da salinidade ou dos movimentos marítimos. O processo de manutenção começa com a raspagem e a limpeza da estrutura e, na sequência, é realizada a substituição da ferragem. Por fim, uma fôrma de fibra ou de aço é usada para receber o concreto.

Características do concreto

Quando usado em obras submersas, o concreto não pode se misturar à água ou ao solo, portanto deve ser bastante coeso. Para atingir o nível ideal, é indicada a especificação de elevada quantidade de materiais finos, como fíler calcário, metacaulim, sílica ativa e areia fina. “O concreto também precisará ter baixa permeabilidade, característica obtida através da redução da relação água/cimento para valores próximos de 0,4”, orienta Tutikian.

O melhor tipo de concreto para ser aproveitado em situações submersas é o autoadensável. Esse produto já apresenta elevado teor de finos e conta com aditivos superplastificantes, tornando-se, assim, a opção sob medida para situações subaquáticas. “Inclusive, foi a partir do concreto submerso que surgiu o autoadensável, no Japão, em 1988”, observa Tutikian.

Assim como o elevado teor de finos, a preocupação em relação ao empacotamento granulométrico (imagem abaixo) auxilia na maior coesão dos grãos do concreto, evitando a sua dispersão no contato com a água. Para apresentar boa coesão, os grãos precisam se encaixar – os menores nos espaços livres dos maiores -, melhorando o esqueleto granular e evitando a separação das partículas.

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Em algumas situações, o concreto submerso deve apresentar elevada resistência a ataques químicos.  Uma possível solução é o uso de cimentos resistentes a sulfato, indicados com um “RS” ao final da nomenclatura técnica de norma (Exemplos: CP III 40 RS, CP V ARI RS, entre outros). Ele oferece resistência aos meios agressivos sulfatados, como redes de esgotos de águas servidas ou industriais, água do mar e em alguns tipos de solos.

Pode ser usado em concreto dosado em central, concreto de alto desempenho, obras de recuperação estrutural e industriais, concretos projetado, armado e protendido, elementos pré-moldados de concreto, pisos industriais, pavimentos, argamassa armada, argamassas e concretos submetidos ao ataque de meios agressivos, como estações de tratamento de água e esgotos, obras em regiões litorâneas, subterrâneas e marítimas. “Por exemplo, em tubulações por onde passam materiais com características ácidas ou que carregam outras substâncias capazes de prejudicar o desempenho da estrutura”, afirma Belov.

Respondendo a esses três requisitos, o concreto submerso já será naturalmente resistente à grande maioria de ataques químicos externos, como cloretos, sulfato e carbonatação, entre outros. “Como qualquer concreto, ele precisa ser resistente aos diferentes ataques que podem acontecer ao longo de toda sua vida útil”, diz Belov.

Concretagem submersa: ação do mar

Se a estrutura de concreto permanecer constantemente sob a água do mar, a chance de ocorrer danos é muito pequena, pois não há corrosão em ambientes submersos devido à baixa quantidade de oxigênio. Porém, se a estrutura estiver localizada em um espaço onde o movimento da maré deixa a estrutura submersa por um período e em outros não, pode acontecer a aceleração do processo de corrosão. Com isso, a estrutura estará propensa a sofrer danos mais rapidamente.

Foi identificada utilização de argamassa inadequada e falha no processo de assentamento, sendo recomendada uma nova instalação.

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