A concretagem de grande volume é muito comum, e cada vez mais frequentes, principalmente em blocos de fundações, mas trazem desafios e algumas particularidades. Elas exigem procedimentos técnicos complexos e muito cuidado, especialmente no planejamento logístico, sendo necessário redefinir a operação entre as partes interessadas. 

A falta desses procedimentos pode causar manifestações patológicas nas peças executadas, impactando no desempenho e durabilidade da estrutura. 

Para entender melhor a importância dos cuidados, diferenças e técnicas utilizadas na concretagem de grande volume, o Mapa da Obra conversou com o Bruno Beppler, Analista de Engenharia da Concresuper, empresa do ramo da prestação de serviços de concretagem, fornecendo concreto dosado em central na cidade de Cascavel-PR e região. Confira:

[MPO] Qual a grande diferença de uma concretagem comum para a de grande volume? 

[Bruno] A grande diferença entre uma concretagem ‘’comum’’ e uma concretagem de grande volume é a complexidade que o planejamento requer, sendo necessária uma atenção especial à logística na concretagem com grande volume. Esse cuidado com a logística começa desde a solicitação de agregados, cimento, aditivos e demais insumos até o fluxo de caminhões que chegam à obra. Qualquer desvio pode alterar a qualidade do concreto e, por se tratar de uma operação de considerável complexidade, é necessário alinhar todas essas questões juntamente aos responsáveis pela obra, buscando produtividade e rendimento, além, é claro, de garantir que o planejamento seja cumprido à risca. Todos os materiais e insumos, bem como a sua logística de entrega, devem estar previamente acertados, sendo recomendada a realização de ensaios em laboratório para validação do traço. No dia da concretagem, é essencial a presença dos engenheiros e técnicos responsáveis da concreteira, tanto na obra quanto na central, acompanhando todo o processo de preparação e aplicação do concreto e podendo tomar decisões rápidas caso necessário.

[MDO] Quais os principais desafios/cuidados para executar concretagens de grande volume?

[Bruno] O principal cuidado se dá por conta de o concreto em grande volume ter uma alta geração de calor de hidratação do cimento e a consequente variação volumétrica das peças estruturais onde é aplicado. Blocos de fundação com altura superior a 1,5 m são especialmente suscetíveis a esse problema e exigem um cuidado maior, devido ao grande volume e elevado consumo de cimento que são empregados nas concretagens dessas peças, sendo necessário um monitoramento da temperatura em tempo real e adotando-se os cuidados para evitar que a temperatura atinja níveis elevados, com risco de formação de etringita tardia, tendo em vista as diversas patologias.

[MPO] Que tipo de alternativas/técnicas temos para realizar uma concretagem de grande volume sem prejuízos à estrutura? 

[Bruno] Dentre as várias alternativas, podemos citar algumas, como o uso de gelo e nitrogênio, mas sem esquecer o básico que todo concreto deve receber, a cura.

Todo cuidado é essencial para concretagens de grande volume, desde o cuidado com agregados até o quantitativo correto de água. Mas o principal é o cuidado com a temperatura do concreto antes da sua aplicação, quando ainda está no caminhão-betoneira, e após o término da concretagem, nas horas subsequentes.

A utilização de gelo em substituição a uma parcela da água contribui consideravelmente para a diminuição da temperatura inicial, ajudando nas reações de hidratação do cimento, que, por sua vez, terá sua liberação de calor reduzida, pois o calor gerado é consumido como calor latente, estabilizando a temperatura do concreto. Isso funciona como uma válvula de escape, pois, uma vez concretada, a elevação da temperatura da peça estrutural é natural, levando à expansão e, no resfriamento, consequentemente, à contração e possível fissuração da peça. No caso do nitrogênio líquido, este pode ser utilizado diretamente após o carregamento ou até na obra. Uma vez que o nitrogênio é injetado, ele rouba calor da mistura no interior do balão da betoneira e, logo em seguida, evapora para a atmosfera. A adição do nitrogênio líquido não afeta a qualidade do concreto, pois não altera o quantitativo de água do traço nem demais componentes. Além dessas alternativas, em que se atua diretamente no concreto, um estudo de etapas de concretagem também auxilia nesse controle de temperatura. Logo, é fundamental a realização de avaliações preliminares, definição da metodologia de resfriamento a ser empregada, além de um sistema de monitoramento para acompanhamento em tempo real da temperatura externa e interna, visando à capacidade de tomar medidas corretivas para ocorrências fora do previsto.

[MPO] Do ponto de vista logístico, o fornecimento de concreto para essas concretagens também é um desafio? Que tipo de cuidados ocorre nessa logística?

[Bruno] É um grande desafio para todos minimizar as possíveis patologias, garantir a eficiência técnica e principalmente atender às expectativas do cliente. Isso envolve um grande alinhamento com fornecedores, clientes e com a nossa própria equipe. É preciso observar diversos pontos, e entre os principais está a logística de fornecimento de cimento, agregados e aditivos, a qual precisa estar de acordo com o fluxo de descarga de concreto imposto pela necessidade da obra. É também fundamental a equipe ser qualificada para o acompanhamento e conferência no recebimento do concreto, como verificação do abatimento, dosagens e temperatura do concreto no lançamento, alinhados com um fornecimento correto de gelo para adição ao caminhão-betoneira (nos casos em que se opta por utilizar o gelo). As precauções ainda passam pelos equipamentos com manutenção preventiva em dia e equipamentos reservas, caso necessário. Estarmos conscientes dos objetivos, do plano e da estrutura de tomada de decisão imediata no dia da concretagem tem nos levado ao sucesso nesse tipo de serviço e com certeza nos deixa muito orgulhosos da nossa evolução.

Confira também as obras icônicas:

https://www.mapadaobra.com.br/obras-iconicas/

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