Publicado em 09/05/2017Traço de Concreto: clima influencia qualidade do concreto
Traço do concreto deve ser robusto para acomodar distintas condições climáticasCréditos: Visia

Traço de Concreto: clima influencia qualidade do concreto

Condições climáticas impactam a qualidade do concreto e podem ser a causa de patologias em estruturas

A qualidade do concreto, seja no estado fresco ou endurecido, é fortemente impactada pelas condições ambientais, em especial a temperatura, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento. A falta de controle dessas variáveis pode ser a causa de uma série de problemas, como mostramos nessa reportagem, que faz parte da série sobre Traço de Concreto.

Há duas condições extremas capazes de comprometer a qualidade do concreto. Temperaturas muito baixas podem provocar o congelamento da mistura, enquanto o calor extremo e/ou a baixa umidade do ar levam à perda rápida da água de amassamento e de cura, provocando fissuras.

Nos trópicos, contudo, a situação mais desafiadora é a acentuada variação de temperatura e de umidade das meias estações. “Às vezes o caminhão betoneira sai da concreteira sob uma condição e, quando chega à obra uma hora depois, a temperatura subiu 5°C ou 6°C”, comenta Luiz de Brito Prado Vieira, engenheiro da gerência de P&D e Qualidade da Votorantim Cimentos.

Tais variações tornam ainda mais importante dispor de um traço robusto, capaz de acomodar distintas condições. Isso pode ser feito com a inclusão de componentes como os estabilizadores de hidratação de pega e o uso de cimentos com moderado calor de hidratação. Cimentos do tipo CP III ou CP IV, por terem respectivamente escória e pozolana em sua composição, apresentam calor de hidratação menor que cimentos como CP II e CP V.

Em casos mais extremos, as condições climáticas podem obrigar o uso de dois ou até três traços diferentes, em resposta à elevada amplitude térmica. Isso acontece, por exemplo, em indústrias de pré-fabricados que adotam processos de produção contínuos. A depender da amplitude térmica, pode ser necessário o uso de um traço para as produções realizadas pela manhã e outro traço para as operações vespertinas. “Em locais onde há muita variação entre as estações do ano, também pode ser necessária a utilização de um traço específico para o verão e outro para o inverno”, comenta Vieira.

Maior consumo de água

A temperatura do ambiente altera as propriedades a qualidade do concreto porque interfere na hidratação do cimento. Dependendo do clima, a mistura pode apresentar um endurecimento mais acelerado ou mais lento, o que deve ser analisado pelo concreteiro. “Se o concreto endurece antes de chegar à obra, poderá ser recusado pelo construtor, que não compra apenas o volume de concreto, mas também propriedades, como resistência e grau de abatimento”, destaca Vieira.

Mais grave é quando o construtor não recusa o concreto endurecido e opta por contornar o problema na obra. “Isso costuma ser feito com a adição de água, o que altera a relação água-cimento e compromete a resistência do material”, explica o especialista. Além do maior consumo de água, outra consequência dos efeitos do clima sobre o concreto é a dificuldade de controlar a velocidade de reação.

Diante de um esfriamento rápido, a tendência é que o concreto demore mais para endurecer. Isso, em princípio, não é um problema, porque diante de uma cura adequada, o concreto endurece. O problema é quando as pessoas não esperam as reações químicas acontecerem direito e acabam desformando antes da hora.

Calor, umidade e vento

Nos canteiros brasileiros, fissuras e patologias provocadas por questões ambientais geralmente são motivadas por altas temperaturas e por baixa umidade no ar que comprometem a qualidade do concreto. Mas há múltiplas estratégias para contornar isso. Uma delas é a redução da temperatura no lançamento, com o uso do concreto resfriado com gelo.

Essa solução é bastante aproveitada na concretagem de grandes volumes, como em barragens e em blocos de fundações. Para reduzir o consumo de água, o resfriamento do concreto no momento de lançamento também pode ser feito com a aplicação de nitrogênio.

Mais simples, outra prática eficaz é o resfriamento da brita que será utilizada no traço. “Às vezes, o simples ato de molhar a brita com água é suficiente para abaixar a temperatura superficial e minimizar os problemas decorrentes do calor”, comenta Vieira.

Para auxiliar o controle sobre a hidratação do concreto, o plano de concretagem pode prever, ainda, o prévio resfriamento das formas e armaduras e alterar o horário da concretagem. A programação pode ser feita de modo que o lançamento aconteça bem cedinho ou ao anoitecer, nos horários em que o sol está mais ameno.

Marcos Valim Júnior, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso (IFMT), destaca outros procedimentos e cuidados que podem ajudar os construtores a controlar a qualidade do concreto e os efeitos nocivos do calor sobre ele no estado fresco:

  • a aplicação deve ser feita imediatamente após a chegada do concreto na obra
  • os vibradores devem ser disponibilizados em quantidade adequada ao porte da concretagem
  • caminhões betoneiras e bombas de concreto não devem ficar expostos ao sol
  • a concretagem de vigas e lajes deve ser feita em frentes reduzidas

A umidade do ar reduzida e a alta velocidade do vento também são condições adversas que precisam ser contornadas sob o risco de gerar patologias como fissuras de retração. A adição de fibras ao traço é uma das medidas que ajudam a evitar problemas.

A cura, por sua vez, deve ser acompanhada de ações como o uso contínuo de água para evitar a evaporação muito rápida. “Quanto maiores forem os cuidados com a cura do concreto, melhor tende a ser o seu desempenho mecânico e a sua resistência, e menores serão as possibilidades de ocorrência de fissuras por retração plástica”, finaliza o professor Valim.

 

Viu só como é importante entender como é feita a mistura do cimento? A água tem papel essencial para a qualidade do material.

 

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