
Automação e industrialização: vetores para o ano de 2022
Falta de liderança dificulta avanço no setor da construção civil
O ano de 2022 mal despontou no horizonte e seus desafios já se apresentaram, principalmente no setor da construção civil onde a elevação dos juros e da inflação, somado a diminuição na renda das famílias e uma grande incerteza por parte dos investidores tendem a levar o setor a não repetir o expressivo crescimento de cerca de 8% registrado em 2021.
Entretanto, alguns fatores deverão contribuir para que a indústria da construção siga crescendo e se desenvolvendo, mesmo que a passos pequenos. Entre eles, estão a necessidade de habitação, que se refletiu no aumento no número de empreendimentos vendidos no ano 2021; a contínua demanda pela casa própria em todos os segmentos da população; o investimento em imóveis como ativos seguros; e também o crescimento dos investimentos privados em infraestrutura, resultante das recentes e futuras concessões; e investimentos públicos costumeiros durante anos eleitorais.
Para Luiz Henrique Ceotto, representante da Urbic, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo setor atualmente é a burocratização, afinal, para se usar a mão de obra intensa, deve-se “punir” tudo o que é industrializado, pois o custo é muito elevado ainda. O custo dos componentes varia entre 18% a 25% na mão de obra intensiva em via única (argamassa) o imposto é de 2% sobre a mão de obra. “Então, a diferença de imposto é tão grande que faz com que a construção industrializada fique mais cara do que a convencional. A construção industrializada só ficou mais cara no setor da construção por conta de uma política alucinada feita nos últimos anos”, aponta.
Outro ponto é que existe uma falta de liderança muito grande no setor, pois ele é muito imerso em si mesmo e não articula com outros setores e como somos um país em desenvolvimento, “o nosso cliente, para unidades habitacionais, que é o maior mercado, não tem dinheiro para comprar, então, facilitamos o pagamento em longos períodos principalmente o que o banco não cobre que são os outros 20% a 30% que deve ser pago até o final da obra”, complementa. Essa porcentagem é repassada para o cliente e se ele não tem dinheiro é necessário alongar e facilitar o pagamento, gerando outros problemas, como distrato e devoluções. Soma o ciclo do negócio brasileiro que é longuíssimo. “Antigamente, existia uma poupança que fazia com que o comprador poupasse antes da compra em si… ou seja, ele comprava já com apartamento pronto e hoje é diferente, se compra com o apartamento na planta”, lamenta.
Isto posto, os empresários de construtoras do segmento, sejam elas grandes ou pequenas, devem estar atentos para as inovações do mercado e até mesmo se arriscarem em nichos menos utilizados a fim de se destacarem perante a concorrência. Uma delas é a automação, pois uma pesquisa realizada pela Gartner revelou que mais de 80% das organizações no mundo pretendem continuar com seus processos de robotização e automação e, em alguns casos, até mesmo ampliar e aumentar seus investimentos em novas tecnologias que promovam maior produtividade.
Para o vice-presidente de pesquisa da Gartner, David Groombridge, dentro contexto, é importante que os Chief Information Officers (CIOs) encontrem soluções as quais multipliquem o esforço das respostas de TI para permitir a automação, gerando assim bases técnicas sólidas e resilientes, cujas capacidades de escalabilidade liberarão dinheiro para investimentos digitais. As mudanças, segundo ele, têm suas tendências apontadas em três grandes blocos: confiança na automação, crescimento acelerado e transformações esculpidas.
Ainda segundo Ceotto, a mudança tributária vai facilitar esse processo de industrialização que em conjunto com a automação de processos pode nivelar fazendo com que tanto a construção industrializada e a construção utilizada até hoje fiquem no mesmo patamar. “Se o nosso setor tiver o mínimo de liderança de poder articular com outros setores como o bancário/financeiro para preparar o cliente para a compra e apoiar a reforma tributária isso vai apoiar muito o desenvolvimento do setor”, ressalta.
A Urbic está atuando em um nicho de mercado com obras entregues entre 10 e 16 meses, ou seja, muito rápidas para um público que já tem o dinheiro para pagar os 20% que o consumidor não tem como pagar. “Atualmente, somos umas das poucas do Brasil que consegue entregar a obra nesse prazo com pavimentos com apartamentos e escritórios de 12 a 20 pavimentos”, ressalta. A margem dos empreendimentos é mais baixa que o mercado, mas o giro do negócio é 3/4 vezes mais rápido.