Publicado em 18/12/2015O uso da realidade virtual e aumentada no setor

O uso da realidade virtual e aumentada no setor

Associadas ao BIM, realidade virtual e aumentada ajudarão a prever necessidades de usuários dos espaços e influenciá-los, diz pesquisadora

Para a professora da Universidade do Sul da Califórnia, Burçin Becerik-Gerber, o futuro do BIM (Building Information Modeling ou Modelagem de Informações da Construção) é a sua integração à realidade virtual e aumentada, prática ainda ausente nos escritórios e canteiros de obra, mas que já aguça o interesse e orienta pesquisas de importantes núcleos acadêmicos internacionais.

Segundo palestra proferida pela professora durante o 6º Seminário Internacional BIM, em São Paulo, a tecnologia agrega estudos mais humanizados da interação comportamental entre o ambiente construído e seus usuários. Também pesquisadora, Gerber está associada ao Laboratório de Inovação em Informática Integrada do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental daquela universidade norte-americana.

“A integração tecnológica permite uma colaboração entre usuário, projetistas e construtores, atendendo demandas por objetivos comuns, como a redução do consumo energético e o aumento do conforto térmico, acústico, espacial ou luminoso, da segurança e da produtividade, a partir de processos que incentivam o aprendizado e a consciência sobre as necessidades de quem usa meios de transporte, instalações hospitalares, prédios de escritórios ou residências”, define. A ideia é que o mercado esteja apto a oferecer produtos mais personalizados, adaptáveis e responsivos a essas necessidades humanas.

Pode até parecer que o mundo da realidade virtual e aumentada, associada à construção civil (por meio de sistemas como o BIM) esteja ainda muito longe de nós, mas para Gerber o surgimento de plataformas móveis, óculos holográficos e outros equipamentos de jogos virtuais, somado a investimentos de US$ 5 bi na interação dessas tecnologias – e que a professora anuncia dever chegar à casa dos US$ 150 bi até 2020 –, já nos permitem olhar a construção da perspectiva de um horizonte bem mais expandido. “Em cinco anos, nossa previsão é que a realidade aumentada já tenha atingido mais de um bilhão de pessoas no mundo; quanto aos investimentos, acreditamos que dos US$ 150 bi, 20% estarão depositados em realidade virtual; os outros 80%, na realidade aumentada.”

Escopo de estudo de realidade virtual e aumentada

O principal eixo da pesquisa está em dois questionamentos. O primeiro: qual seria o impacto do design de espaços sobre o comportamento do usuário final em relação ao consumo energético. O segundo: como edifícios podem ser construídos e operados a fim de influenciar ou mudar o comportamento de usuários finais? A pesquisa de ponta se concentrou ainda em questões sobre como comparar diferentes alternativas de layout especial; como controlar, ao mesmo tempo, o impacto de múltiplas variáveis sobre processos construtivos e sobre o comportamento humano; como isolar os impactos de uma única variável; e como coletar amostras de informações para gerar teses significativas sobre a influência do design no comportamento humano.

Foram promovidos treinamentos para a imersão em ambientes realidade virtual e aumentada: andar, identificar objetos, agarrá-los e movê-los, abrir e fechar portas, analisando se o desempenho dessas atividades básicas do uso de espaços construídos poderia ser reproduzido com lealdade no mundo virtual. Resultados positivos no reconhecimento de objetos apontaram para um forte senso de presença dos 112 participantes, não tendo havido diferenças significativas na realização de atividades no mundo virtual, quando comparado ao ambiente físico real. O método, assim, estava aprovado.

Um segundo passo foi estudar a relação entre a disponibilidade de sistemas de iluminação artificial e de sombreamento controlados pelo usuário, e seu comportamento frente ao potencial de redução do consumo energético. Os testes, realizados em ambientes virtuais, comprovaram que entre os 114 participantes havia uma forte tendência (76%) a optar por sistemas semi-automáticos adicionados a persianas e venezianas para captar a luz natural – ou seja, adicionar tais sistemas a elementos de sombreamento mostrou-se estratégia eficiente para incentivar o uso da luz do sol em ambientes internos.

Por outro lado, os mesmos testes também demonstraram que as opções por controle remoto eram mais escolhidas não por serem as preferidas, mas por serem as mais fáceis de usar. “Os resultados deixam claro como os testes em realidade virtual são capazes de orientar designers a encontrar um layout que incentiva o comportamento para a eficiência energética, se este é o objetivo do projeto. As implicações disso é que não só encontramos meios de influenciar usuários para fins legítimos e positivos, como também melhoramos a qualidade do ambiente construído com propostas mais adequadas às verdadeiras vontades do homem, impactando até mesmo sobre códigos regulatórios e normas técnicas para o setor da construção.”

Mas a realidade virtual e aumentada também terá sua função. Para Burçin Becerik-Gerber, o principal uso dessa tecnologia, que sobrepõe elementos de realidade virtual ao espaço físico real, será nas manutenções prediais e na execução de obras, a partir de simulações 4D. “Vai ser possível ver infraestruturas escondidas, acessar informações em locais remotos, detectar falhas de sistemas hidráulicos ou estruturais sob paredes e revestimentos (a partir de raios infravermelhos), ou usá-la como meio de comunicação e visualização de elementos construtivos entre operadores distantes uns dos outros.” Um mundo que, por mais cinematográfico que possa se mostrar, está muito próximo da realidade – e a aplicação do BIM a grandes projetos de engenharia já é, para que se torne verdade, meio caminho andado.   

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