Publicado em 18/12/2015Pedreiro ou vice-prefeito?

Pedreiro ou vice-prefeito?

Conheça a história do vice-prefeito que cansou de ficar à toa e voltou a ser pedreiro

Eugênio Valdo de Almeida, 47, é vice-prefeito da cidade de São Braz, de pouco mais de 4 mil habitantes, no sertão do Piauí. Mas ele também é pedreiro e nunca vai deixar de ser. Hoje, divide seu tempo entre a prefeitura e as obras que toca nos municípios da região. “Em cidades muito pequenas como a nossa, vice-prefeito não tem nem gabinete. No começo da gestão, eu ia mais para a prefeitura, procurar o que fazer lá; mas não havia oportunidades. Tudo é resolvido pelo próprio prefeito”, conta.

E não é mentira. De tão pequena, a prefeitura de São Braz do Piauí não possui uma linha de telefone fixo sequer. “Nem na Secretaria de Obras eu podia trabalhar; não tinha mesmo o que fazer”, diz. Entediado, foi caçar serviço. Desde 2011 é, ao mesmo tempo, vice-prefeito e pedreiro. Eugênio relata que a única coisa que conseguiu fazer na carreira política foi usar seu próprio salário para ajudar agricultores em dificuldades. “Eram amigos; eu acabava tirando do meu bolso, daquilo que ganhava pelo cargo na prefeitura, para dar aos que precisavam na roça”, conta, de um jeito bastante brasileiro.

Eugênio acredita que se houvesse o que fazer na prefeitura, não teria conseguido conciliar o serviço nas obras. “Em São Braz também não tem obras. A gente viaja 20, 40, 50 km ou mais, todos os dias, para trabalhar em alguma construção das redondezas.” Para que serve, então, o vice-prefeito? Segundo o político, sua única função foi apoiar a chapa do candidato vitorioso a prefeito, nas eleições. “Meu mandato acaba no ano que vem e eu não pretendo me candidatar a nada. Quero continuar com meu serviço de pedreiro; hoje sou muito ativo”, conclui.

O cargo de vice-prefeito pode não ter servido muito aos munícipes de São Braz, mas para Eugênio Valdo de Almeida até que ajudou bastante. “Fiquei conhecido. Dei entrevistas para a televisão. Daí todo mundo soube que eu era pedreiro, tinha experiência e sabia construir bem. O resultado é que agora sou chamado para fazer obras em toda a região. São tantas, que nem dou conta sozinho e acabo trazendo amigos para trabalhar comigo.”

Entre Bertioga e São Braz

O começo da carreira na construção civil foi em Bertioga, litoral de São Paulo, em 1989, como ajudante de pedreiro. Eugênio não tinha feito cursos nem escola e pouco sabia. Aprendeu na raça. Depois de dois anos olhando e “usando a inteligência”, como diz, dominou o ofício e foi para São Paulo tentar a sorte. Sem muito trabalho, voltou ao Piauí, mas lá o volume de obras era ainda menor, senão inexistente. Foi de novo para São Paulo, tendo ficado seis anos na capital e outros três em Araras, no interior do Estado, sempre trabalhando.

“Voltei para São Braz e, de 2008 a 2011, ajudei companheiros na roça, como voluntário. Eles não podiam me pagar. É muito pobre e seco.” Surgiu então a ideia da candidatura. Eleito, passou a receber um salário de quase R$ 4 mil. “Mas há muitos descontos, então, não dava nem para cumprir meus compromissos”, justifica. Como o dinheiro era pouco, e o pouco que entrava era usado para ajudar amigos na roça, o vice-prefeito de São Braz decidiu investir novamente na construção, mas agora, sem sair de sua cidade natal. “Aproveitei a falta do que fazer na prefeitura para tentar os canteiros, outra vez.”

Eugênio nem se considera um político. “Também não sou empreiteiro. Nunca abri uma empresa. Eu sou é pedreiro”, afirma, orgulhoso. “Devido ao meu conhecimento e experiência, as pessoas confiam em mim e me chamam para construir. Este é o meu ofício de verdade.” Outro fator que o ajuda a fazer sucesso é a inexistência de bons profissionais na região. “Quase ninguém sabe colocar a mão na massa por aqui”, aponta. Para Eugêncio, quando ser político “está em baixa”, o melhor é fazer o que gosta. “Importante é a gente não ficar à toa.”

Depois de alguns anos de instabilidade econômica e política, a expectativa para os lojistas do varejo de materiais de construção, em 2018, é atender uma demanda reprimida pelos fatores macroeconômicos.

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