Publicado em 02/08/2017Traço de Concreto: seco x plástico
O concreto seco é utilizado na fabricação de artefatos, como blocos, e notabiliza-se pelo alto consumo de cimento e pouca água em sua composiçãoCréditos: IvanovRUS

Traço de Concreto: seco x plástico

Enquanto o primeiro é indicado para aplicações que demandam desforma imediata, o segundo precisa ficar no molde até adquirir resistência suficiente. Conheça outras características do traço de concreto

Com reduzido teor de água, aspecto farelento e baixa coesão no estado fresco, o concreto seco difere bastante do concreto convencional (plástico). Enquanto neste último é adotado o conceito de relação água/cimento, no primeiro o valor de água adicionada ao traço é uma porcentagem da massa total da mistura, que, em geral, varia entre 5% e 8%. Amplamente utilizado na fabricação de artefatos de concreto, o concreto seco é caracterizado também pelo alto consumo de cimento, na faixa de 350-400 kg/m³. A seguir, esta reportagem, que faz parte da série Traço de Concreto, mostra outras diferenças entre os materiais.

Traço de concreto seco ou convencional?

Desforma imediata

Conhecido também como concreto sem abatimento, o concreto seco tem como uma de suas características a capacidade de manter sua forma depois de adensado e prensado. Tal propriedade torna esse material adequado para aplicações que exigem desforma imediata, como fabricação de blocos, pisos intertravados, concreto de barreira em rodovias, telhas de concreto etc.

“Muito diferente ocorre com o concreto plástico, que, por sua fluidez, precisa ficar no molde por um período até que adquira resistência suficiente para ser desformado”, compara o engenheiro Vicente Bueno Verdiani, consultor do departamento de Desenvolvimento Técnico de Mercados da Votorantim Cimentos.

 

Agregados finos e graúdos

Tanto no concreto plástico, quando no seco, uma série de cuidados deve ser adotada na hora de dimensionar a quantidade e a tipologia de agregados miúdos e graúdos. A formulação ideal está diretamente ligada ao projeto e à aplicação do concreto. “A proporção certa deve ser aquela que possibilite o melhor empacotamento da mistura, ou seja, que garanta o menor volume possível de vazios dentro da mistura”, explica Verdiani.

No traço do concreto plástico, por exemplo, os teores de finos são determinados em função do grau de fluidez do concreto. Já na composição do concreto seco, o teor de finos está relacionado ao seu aspecto visual. Teores de finos maiores são usados quando se busca um acabamento mais liso. Para obter um acabamento mais rústico, privilegiam-se teores de finos menores.

Em relação aos agregados graúdos, a formulação do concreto seco deve levar em conta o processo de produção do artefato a ser fabricado. Isso porque um limitante para o tamanho máximo do agregado é o tipo de equipamento que fará o adensamento do concreto posteriormente.

Assim como acontece com o concreto plástico, o concreto seco também pode incorporar aditivos em seu traço. Só que em vez de utilizar compostos redutores de água, muito empregados para garantir trabalhabilidade e resistência ao concreto plástico, no concreto seco os aditivos visam reduzir o atrito entre os materiais da mistura e permitir o melhor adensamento possível para se obter o melhor desempenho.

A adição de água, como ocorre com o concreto plástico, precisa ser controlada para assegurar a performance do material. “Se passarmos do ponto ótimo de água, podemos ter problemas no acabamento das peças. Além disso, se a quantidade de água for excessiva, o concreto seco perde a sua principal característica, que é manter a forma depois de aplicado”, comenta Verdiani.

“Quando adicionamos água demais, a massa costuma agarrar na fôrma e o produto se deforma. Neste caso, não é possível utilizar o concreto, pois as peças vão perder a forma ou quebrar”, acrescenta a engenheira Naguisa Tokudome, consultora técnica da Votorantim Cimentos.

 

Adensamento mecanizado

Por causa da baixa trabalhabilidade do concreto seco, o adensamento é uma etapa crítica para a garantia de qualidade desse material. O bom resultado depende muito do equipamento utilizado para a mistura. A aplicação manual é pouco ou quase nunca utilizada.

Segundo Naguisa, para a mistura dos materiais, o mais indicado é o uso de misturadores, que costumam ter maior poder de homogeneização do que as betoneiras. Para a produção de blocos e pisos intertravados, é recomendável a compactação em uma vibroprensa específica. Já para a fabricação de tubos de concreto, o adensamento pode ser feito com vibradores instalados na fôrma do tubo ou ainda por sistema de centrifugação.

 

Controle de qualidade

Assegurar o melhor desempenho do concreto, seja ele plástico ou seco, requer cuidados como o respeito ao tempo máximo de transporte previsto pela norma ABNT NBR 7212, que trata da execução de concreto dosado em central.

Por essa norma, o tempo máximo que a mistura pode ficar em caminhão betoneira é de 90 minutos, sendo o tempo máximo total para lançamento do concreto de 150 minutos, contados sempre a partir da adição de água à mistura.

No concreto seco, o controle de qualidade é realizado via testes específicos de rompimento das peças prontas (blocos, pisos intertravados, telhas etc). Para o concreto seco usinado utilizado em calçadas e barreiras, o ensaio é realizado por meio do rompimento de um corpo-de-prova.

Nesses casos, porém, a eficácia do teste é discutível. Tanto é que a prática do mercado é comercializar esses produtos com base em um consumo mínimo de cimento.

 

Agora que você conhece as diferenças entre concreto seco e plástico, leia também sobre o conceito PACAAAA no traço de concreto.

 

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