Publicado em 09/06/2016Pisos industriais exigem projeto detalhado
Os pisos industriais são executados em concreto convencional e armado, basicamente, com telas soldadas

Pisos industriais exigem projeto detalhado

Além disso, é fundamental realizar uma especificação precisa do concreto utilizado no produto, para evitar fissuras e trincas que podem comprometer a operação da indústria ou do galpão logístico

Projeto detalhado, execução correta e concreto preparado a partir de critérios de controle específicos são determinantes para a qualidade dos pisos industriais. O material está presente em instalações industriais e galpões de centros logísticos, nas lojas de varejo, atacado e nos chamados atacarejos, além de estacionamentos, subsolos e postos de gasolina.

Entre suas vantagens está a baixa probabilidade de surgirem patologias – uma vez que eventuais problemas podem ser mitigados já no projeto. No Brasil, existem projetistas e empresas executoras capacitados, que seguem o padrão do que é feito de melhor no exterior.

Mercado

A Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho (Anapre) divide o mercado de piso industrial de concreto em informal e formal. Constituído por pequenos construtores que executam o produto sem projeto técnico, o segmento informal é bastante representativo e atende áreas onde se desenvolvem atividades com menores exigências sobre o item.

Já o formal responde pela fatia de mercado em que o piso é essencial para a operação, inclusive com participação importante no custo total da obra. “O empreendedor não pode se dar ao luxo de dispensar o projeto técnico”, alerta o engenheiro Gelmo Chiari Costa, diretor técnico de concreto da entidade.

Projeto de pisos industriais

No Brasil, não há normas técnicas específicas para projeto e execução de pisos de concreto. Projetistas e empresas especializadas na sua construção apoiam-se em normas e recomendações internacionais, especialmente inglesas e americanas.

De acordo com o engenheiro Wagner Gasparetto, diretor presidente da LPE Engenharia e vice-presidente da Anapre, o projeto de piso de concreto deve ser considerado como um projeto estrutural. “Portanto, não deve ser detalhado com uso de dados genéricos, mas precisa oferecer para a produção (obra) a compatibilização com as demais disciplinas”, diz. O projeto desenvolve estudos que vão da geotécnica e preparação da base do terreno até a especificação do concreto, com todos os seus parâmetros.

Os pisos industriais são executados em concreto convencional e armado, basicamente, com telas soldadas. A armação pode ser feita em tela simples ou dupla, dependendo do nível de carregamento e das tensões a que esse piso será submetido. Podem, também, ser armados com aços para concreto protendido ou armados com fibras – de aço ou macrofibras de origem polimérica.

Os pisos são construções moldadas in loco, que têm atrás de si uma cadeia com vários elos, que vão do investidor, gerenciadora da obra e construtora ao escritório de projeto e empresa executora de pisos industriais. Pode haver, ainda, uma empresa de controle tecnológico do piso.

O projeto pode prever especificações de revestimento do piso, como o epóxi, feito por empresa especializada em Revestimento de Alto Desempenho (RAD). “O concreto possui boa resistência mecânica. Com cura adequada do material, o acabamento eleva sua resistência à abrasão”, comenta o diretor da LPE. Contudo, sob o ponto de vista químico, o concreto é vulnerável ao ataque de muitos produtos químicos e orgânicos, devendo receber revestimentos apropriados.

Concreto

“O concreto dos pisos industriais é mais sensível à variação do que os demais segmentos de estruturas de concreto, daí a necessidade de observação de diversos itens”, ensina Gasparetto. Além da resistência à compressão e tração na flexão, é preciso considerar o consumo mínimo de cimento; teor de argamassa; exsudação; retração específica (relacionada, por exemplo, com o consumo de água); tempo de pega; temperatura do cimento; e resistência à abrasão, entre outros fatores.

É importante alertar sobre as tolerâncias nas variações de abatimento. Um piso industrial precisa ter uma tolerância mais rigorosa do que prescreve a norma. Usualmente, a variação do abatimento do concreto para um piso industrial deverá ser inferior a ±10 mm, sob o risco de originar ‘juntas frias’ entre caminhões betoneiras, prejudicando o acabamento e os índices de planicidade.

Os aditivos misturados ao concreto têm a função de reduzir o volume de água necessária para a obtenção de determinada trabalhabilidade. “Este fato nos remete a uma redução do consumo de cimento (mantendo-se a relação água/cimento), favorecendo a retração específica. A trabalhabilidade desejada pode estar relacionada com questões como o bombeamento do concreto em obras de difícil acesso logístico do caminhão betoneira e consequente lançamento do concreto”, diz Gasparetto.

A Votorantim Cimentos indica os cimentos CP II F40, CP II F32, CP II Z32 ou CP IV 32 para o concreto de pisos industriais. E a Engemix – negócio de concreto da Votorantim Cimentos – produz o Pisomix, que assegura maior resistência ao trânsito intenso, aos possíveis agentes abrasivos, baixos níveis de fissuração e tempo de pega adequado para aplicação e acabamento, conferindo maior durabilidade ao piso.

Juntas

As juntas de movimentação que delimitam as placas de concreto são um aspecto crítico do piso. É necessário projetar e executar as juntas de maneira bem dimensionada para obter desempenho satisfatório ao longo da vida útil do piso e evitar patologias. “Falhas na execução podem causar fissuras e/ou quebras nos cantos das juntas (esborcinamento), obrigando muitas vezes a paralisação das atividades da empresa”, avisa Costa.

Além disso, placas mal niveladas geram desgaste e embuchamento na parte mecânica dos equipamentos, como as empilhadeiras, elevando o custo de manutenção.

“Mas, hoje, temos um grau de sofisticação que permite o controle automatizado do nivelamento e planicidade desses pisos, principalmente em galpões logísticos”, comenta o diretor da Anapre.

Patologias

Segundo Gasparetto, as patologias normalmente são fissuras e trincas, com origens diversas. As causas mais comuns são: concreto com elevada retração específica; inadequação no posicionamento de armaduras de combate à retração e barras de transferência; e, ainda, questões relacionadas com o preparo do solo e camadas inferiores dos pisos de concreto. Para cada tipo de fissura existe um procedimento corretivo ideal. A identificação deve ser feita por profissional que vai especificar o tratamento adequado e definitivo para a patologia.

A formalização dos processos é o melhor e único caminho para a prevenção. “Estamos falando a partir de uma visão sistêmica, que requer uma série de procedimentos”, afirma Gasparetto. Em primeiro lugar, é preciso planejar a obra, obtendo dados de toda natureza, como os de solos, cargas operacionais, condições executivas e materiais locais.

Em seguida, vem a elaboração de projeto executivo com indicação de detalhes específicos para 100% da obra e informações de todo tipo de controle e suas tolerâncias executivas. As compras de materiais e a seleção de empresa executora devem ser feitas por equipe capacitada, para que se tenha a real diferença entre preço e desempenho dos materiais. E, finalmente, é fundamental monitorar a execução, com base nos parâmetros de controle do projeto.

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