Publicado em 16/09/2016Intervenções em estruturas de concreto
Para definir se a estrutura de concreto deve passar por recuperação, reparo ou reforço, é necessário avaliar cargas e características da obraCréditos: angelo gilardelli / shutterstock.com

Intervenções em estruturas de concreto

Recuperação, reparo e reforço são algumas das ações empregadas para restabelecer condições de uso e de segurança das estruturas

Existem diversas manifestações patológicas que podem surgir nas estruturas de concreto. Com origens em erros no projeto ou em falhas de execução, a boa notícia é que esses problemas são passíveis de reparos e de recuperação. “As intervenções só não acontecem quando o custo da operação é elevado, tornando a demolição financeiramente mais interessante”, afirma o engenheiro Cesar Henrique Sato Daher, vice-presidente da Associação Brasileira de Patologia das Construções (Alconpat Brasil).

Para avaliar qual seria a melhor solução, é preciso partir de um diagnóstico. “Essa análise deve se basear na maior quantidade possível de informações: relatórios de controle de qualidade, diário de obra, anamnese, histórico de manutenção, inspeção detalhada no local, realização de ensaios in situ e coleta de amostras para ensaios laboratoriais, entre outros”, enumera Daher.

O engenheiro responsável pelo planejamento das intervenções em estruturas de concreto precisará estudar cuidadosamente o projeto estrutural, avaliando as cargas e as características da obra. “Em casos onde os dados não estão mais disponíveis, como em construções antigas, é necessária uma inspeção detalhada da estrutura, de modo a caracterizá-la adequadamente”, recomenda o engenheiro Douglas Couto, membro do corpo técnico da PhD Engenharia.

Recuperação, reparo ou reforço?

Empregados muitas vezes como sinônimos, os termos recuperação e reparo têm significados tecnicamente distintos.  A reparação de estruturas de concreto é a realização de pequenas intervenções e correções de maneira localizada. Já recuperação é o reestabelecimento das condições de uso e de segurança da estrutura, por meio de um conjunto de reparos. “Há também o conceito de reforço, que, diferentemente do reparo, confere ganho de capacidade resistente às estruturas de concreto”, explica Couto.

Soluções para recuperação e reparo de intervenções

Há diferentes materiais para reparo e reforço de estruturas de concreto. A escolha da técnica ideal dependerá, basicamente, das características arquitetônicas da edificação, do grau de deterioração da estrutura e do nível de carregamento e de deformação. O tipo de manifestação patológica também interfere na especificação da solução. Entre o leque de produtos, estão as argamassas poliméricas, indicadas para reparos superficiais de até 30 mm. “Os revestimentos poliméricos, geralmente em forma de pintura, têm o objetivo de auxiliar na impermeabilização da superfície”, informa Daher.

Para reparos profundos, a partir de 30 mm, recomenda-se o uso de grautes. Já as resinas são aproveitadas para o selamento de fissuras e, em alguns casos, para retomar a monoliticidade do elemento estrutural. “Outra solução são os aditivos de cristalização, utilizados na dosagem de concretos de estruturas que precisam ser estanques, como os reservatórios, as lajes de subpressão e as piscinas, entre outros”, diz Couto.

Há ainda as argamassas de base epóxi, que apresentam grande resistência a desgastes superficiais físicos e químicos, além de boa aderência. “Com essas mesmas características, existem também as argamassas de bases poliéster, uretânicas, furânicas e ester-vinílica, cada uma delas com desempenho diferente”, fala Daher, ressaltando que esses materiais são conhecidos como revestimentos ou argamassas anticorrosivos, aproveitados no aumento da resistência mecânica e química de superfícies em ambientes de alta agressividade. Outra categoria de materiais são os hidrofugantes, que, assim como os vernizes, são pinturas superficiais com a função de impermeabilização sem grandes alterações no acabamento já existente.

As etapas básicas de execução desses reparos ou de recuperações se resumem à remoção das partes deterioradas, à limpeza das áreas atacadas e à reconstituição do elemento estrutural. Em alguns casos, pode ser necessária a substituição parcial de alguns componentes da estrutura.

Materiais para reforço estrutural

O reforço das estruturas é executado com o uso de diversas técnicas e materiais, como as mantas de fibra de carbono, adesivos à base de epóxi e concretos de alta resistência. Assim como nos reparos e nas recuperações de intervenções, a especificação depende das características de cada cenário. “Por exemplo, as mantas e os laminados de fibra de carbono são aplicados, na maior parte dos casos, no reforço à flexão de lajes e vigas. Por trabalharem essencialmente à tração, exercem a função de complemento de armadura nas regiões tracionadas do concreto”, afirma Couto.

Outra aplicação das mantas de fibras de carbono em reforços está no confinamento por encamisamento de pilares circulares, caso em que o produto atua contendo a expansão horizontal do elemento devida à carga vertical. “É de suma importância o controle de qualidade e procedência desses materiais, realizando ensaios e exigindo certificação dos fabricantes”, recomenda Couto.

Os adesivos de base epóxi são aplicados em ancoragens químicas de armaduras, quando necessárias ao reforço, e auxiliam na fixação de chapas e perfis metálicos. “Esses e outros adesivos, em geral, não são materiais de reforço propriamente dito. Na maioria dos casos, são empregados para melhorar a aderência do reparo no concreto estrutural pré-existente, ou mesmo para a adesão dos materiais de reforço”, explica Daher.

Já os concretos de alta resistência (fck > 50MPa) apresentam-se como importante alternativa no reforço de vigas e, principalmente, de pilares. “Os reforços em vigas de concreto armado podem se dar via encamisamento e, consequentemente, aumento de seção. Nos pilares, os reforços serão via encamisamento (com aumento de seção) e por substituição do concreto, ou parte do concreto da seção, por concretos de alta resistência”, detalha Couto.

Basicamente, a execução de cada reforço deve seguir as especificações de projeto. O primeiro passo é a execução do escoramento, que deverá estar devidamente detalhado no projeto, e a remoção dos revestimentos pré-existentes. A segunda etapa dependerá do grau de deterioração, podendo variar da injeção ou tamponamento de fissuras até a remoção/substituição de partes do concreto e armadura. “Essa fase é de suma importância, pois, em todos os casos de reforço, haverá a necessidade de fixação (ancoragem) do sistema em um material que apresente condições e resistência adequadas. Caso contrário, o reforço será mero desperdício de recursos”, afirma Daher.

A terceira etapa, geralmente, se resume ao tratamento de superfície. Quando se emprega a técnica de aumento de seção, existe a necessidade de limpeza e de escarificação do concreto antigo (com exposição de agregados), de maneira a aumentar a rugosidade para aderência adequada do novo concreto. Se não há o aumento de seção, a quarta etapa resume-se na fixação do material de reforço. “Em todo o procedimento de reparo, faço uma referência aos programas de TV: não tente fazer isso sozinho, consulte sempre um especialista. Não existe receita, cada caso é um caso”, finaliza Daher.

 

Evite também a corrosão de estruturas de concreto armado com inibidores, que podem ser adicionados à massa na preparação.Botão Site

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