Publicado em 03/10/2016Emissão de gases de efeito estufa deve ser mapeada pela construção civil
De acordo com o United Nations Environment Programme (Unep), a construção de edificações é responsável por até 30% das emissõesCréditos: Corlaffra / shutterstock.com

Emissão de gases de efeito estufa deve ser mapeada pela construção civil

Inventário, projeto de ações ambientais e orçamento são ferramentas para redução dos impactos

Não é de hoje a preocupação com a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) presentes na atmosfera. Desde 1997, o Protocolo de Kyoto estabeleceu metas para a redução da emissão de gases poluentes para minimizar seus principais impactos, tais como mudanças climáticas e alterações no regime de chuvas de algumas regiões.

Mas de acordo com o United Nations Environment Programme (Unep), a construção de edificações é responsável por até 30% das emissões. Na fabricação de cimento, por exemplo, o principal gás emitido é o CO2, liberado na chamada calcinação, etapa na qual o calcário é transformado em óxido de cálcio (cal virgem), e também na queima de combustível fóssil nos fornos. Assim, preocupadas com o meio ambiente, a Votorantim Cimentos e outras cimenteiras elaboraram ferramentas para a redução de emissões: o inventário de gases de efeito estufa, os projetos de ações ambientais e os chamados orçamentos.

Inventário

“Fazemos o inventário desde 2005 com base no Protocolo Brasileiro de Gases de Efeito Estufa e estabelecemos a meta de reduzir, até 2020, 25% das emissões em relação às emissões de 1990. Em 2015, já havíamos reduzido 15,3%”, declara Patricia Monteiro Montenegro, gerente global de Relações Ambientais da Votorantim Cimentos.

A ideia do inventário é que as empresas identifiquem todas as suas fontes de emissão e calculem o quanto emitem. “O inventário nada mais é do que uma ‘foto’ que mostra o quanto a empresa está emitindo”, define Isabel de Araujo Sbragia, coordenadora da área de sustentabilidade da ABNT Certificadora.

No cálculo, devem entrar a queima de combustível em caldeiras ou fornos; o uso de geradores, carros, tratores e empilhadeiras; as emissões associadas aos processos da empresa; a utilização de ar-condicionado e extintor de incêndio; e os resíduos destinados à compostagem, ao aterro sanitário, à incineração e ao tratamento de efluentes.

Também devem constar – além das emissões de fontes controladas pela própria empresa, classificadas como escopo 1 pelo Protocolo Brasileiro de Gases de Efeito Estufa, e as emissões indiretas geradas pelo uso de energia –, calor e vapor, consideradas como escopo 2. “Por exemplo, o computador que fica ligado enquanto um funcionário trabalha não está emitindo nenhum gás, mas o que é emitido pela termelétrica para que o aparelho possa funcionar deve ser considerado”, ilustra Sbragia. Há, ainda, o escopo 3, que são todas as outras fontes indiretas. “Se um funcionário viaja a trabalho num avião que não é da própria empresa, a emissão desse meio de transporte é computado no escopo 3”, exemplifica Isabel. Segundo o Protocolo, os escopos 1 e 2 são obrigatórios; o 3, opcional. No entanto, grandes empresas já contabilizam o 3, porque ele é maior do que o 1 e o 2 somados.

E o que é feito com esse documento? Ele pode servir de base para um projeto de políticas ambientais para redução das emissões e/ou apresentado a órgãos que cuidam do meio ambiente, como o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), do Rio de Janeiro, que obriga que as empresas o entreguem.

Projeto

Com o inventário pronto, é hora de a empresa planejar ações sustentáveis para reduzir o impacto ambiental de suas emissões.  Na fabricação de cimento, por exemplo, há algumas alternativas, já empregadas pela Votorantim Cimentos: o coprocessamento, que é a utilização de resíduos de outras indústrias no lugar do coque de petróleo, e a substituição de parte do clínquer (principal matéria-prima do cimento), por argila pozolânica, que emite 50% menos gases, por escória de alto forno ou por cinzas volantes.

Com essas medidas, o índice de emissões do setor de cimentos brasileiro está entre os menores do mundo: inferior a 2%, segundo Montenegro. Ela diz, ainda, que, graças às iniciativas que a Votorantim tem praticado, a empresa ganhou, em agosto, o selo ouro da Fundação Getulio Vargas (FGV), que atesta que as suas iniciativas e o inventário de gases de efeito estufa são boas práticas.

Orçamento

Há, ainda, um terceiro tipo de documento que pode ser feito pelas empresas: o orçamento. “Ele diferencia-se do inventário por ser uma previsão, um cálculo de quanto a empresa pretende emitir”, explica Sbragia. “Por exemplo, na construção de um prédio, muitas empresas preveem quanto usarão de matéria-prima, quantos geradores e equipamento de ar-condicionado serão necessários etc. Algumas contratam, inclusive, especialistas para fazer essa projeção”, afirma a coordenadora da área de sustentabilidade da ABNT.

Leia também: Resíduos ganham destinação ambientalmente correta

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