Publicado em 16/12/2014Argamassa projetada é objeto de estudo

Argamassa projetada é objeto de estudo

Viscosidade, fluidez e espessura da camada ditam adesão inicial e possibilidade de fissuramentos

Uma pesquisa desenvolvida pela engenheira Kátia Cristina Zanelatto, para trabalho de mestrado apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), demonstrou que na mecânica de argamassa projetada para revestimento, os fatores de maior influência na adesão inicial e ocorrência de fissuramentos são o teor de água contido na mistura (viscosidade e fluidez), e a espessura da camada aplicada.
O trabalho intitulado Avaliação da influência da técnica de execução no comportamento dos revestimentos de argamassa aplicados com projeção mecânica contínua foi desenvolvido por meio de pesquisa de campo e visitas técnicas a cinco canteiros que utilizavam o sistema projetado. Os resultados comprovaram que, quanto maior a espessura da camada de argamassa aplicada, menor será sua adesão inicial.
“Além disso, outras variáveis da técnica de execução, como o intervalo entre demãos, as condições de umidade do substrato e a técnica de acabamento da camada podem levar a comportamentos distintos, principalmente em relação à resistência de aderência”, explica a pesquisadora. A partir dos resultados, algumas recomendações podem ser feitas. A primeira delas é analisar as condições de adesão inicial do substrato em cada caso, para chegar a uma espessura limite possível da camada. Assim, a mistura será definida para aplicar em demão única, o que reduz o comprometimento do tempo do operário e aumenta a sua produtividade. “São produzidos painéis-teste com a espessura desejada. Isso serve para identificar o potencial de fissuração e a resistência de aderência média do revestimento”, conta.

Abrangente, a pesquisa considerou a influência de múltiplas variáveis relacionadas à execução de revestimentos em argamassa por projetores mecânicos:

• Condição de umidade do substrato: seco, ou umedecido 24 horas antes;
• Teor de umidade da argamassa: 22%, 25% e 28%;
• Número e espessura das demãos: 2 cm (em demão única); 0,3 cm + 1,7 cm (em duas demãos) e 1 cm + 1 cm (em duas demãos);
• Intervalo entre demãos: úmido sobre úmido (30 min, 60 min e 90 min); úmido sobre seco (24 hs);
• Intervalo para realização do acabamento superficial: 10 min, 20 min, 40 min, 60 min e 120 min;
• Técnica de acabamento superficial da camada: raspagem ou sarrafeamento convencional.

Estudo das variáveis

Zanelatto conta que também fez testes em laboratório sobre 27 painéis idênticos de alvenaria de blocos de concreto. As argamassas utilizadas eram industrializadas, próprias para projeção mecânica contínua. A adesão inicial foi avaliada visualmente, logo após a projeção da massa, mas também durante a execução do acabamento, para identificar a ocorrência de ondulações, escorregamentos, fissuras e destacamentos.

Fissuras foram inspecionadas visualmente logo após a execução de cada painel, e ao longo dos 28 dias subsequentes, conforme preconiza a ABNT NBR 15.575-4. Já o ensaio de resistência de aderência à tração, após os 28 dias, segue o rito da ABNT NBR 13.528. A intenção era comparar a técnica de projeção mecânica à aplicação da argamassa por lançamento manual, com desempenadeira.

Foram estudados ainda intervalos entre demãos e para acabamento superficial, o teor de umidade da argamassa projetada, a condição de umidade do substrato, a forma de aplicação da argamassa, a técnica de acabamento da camada e a interação entre as variáveis levantadas.

Técnicas de execução

Os estudos comprovam que a aderência da argamassa projetada depende das condições de aplicação, e recomenda apertar a camada contra o substrato, exercendo pressão mecanicamente (apertando-a), para potencializar a extensão da aderência. “Após o alisamento superficial com régua “H”, a camada de argamassa não deve ser solicitada até que adquira condições de sofrer acabamento superficial”, salienta Zanelatto. O sarrafeamento tradicional é preferível à raspagem, porque também colabora com a aderência ao substrato.

Situações adversas

Um dos condicionantes que limitam o potencial de implantação das bombas de projeção é a dificuldade de usar, neste método, argamassas viradas em canteiro. “Elas devem ser tanto bombeáveis quanto projetáveis”, explica a especialista. “Uma reologia inadequada da argamassa pode levar a deficiências no comportamento dos revestimentos, danos nos equipamentos e, por consequência, à paralisação da obra”, alerta.

A reologia é, por sua vez, influenciada por características dos materiais utilizados – distribuição granulométrica e diâmetro máximo dos agregados, volume de vazios, aspectos morfológicos, textura e forma dos grãos – como pela proporção dos materiais – relação volume de pasta / volume de agregados, tempo de mistura, teor de água das massas, teor de ar incorporado e utilização de aditivos, entre outros. O sistema requer, portanto, grande controle da produção, o que significa dosar materiais de forma precisa (especialmente os aditivos, em pequenas proporções), e acompanhar variações no grau de umidade dos agregados especificados.

Kátia Zanelatto relembra que o benefício do aumento da produtividade, frente ao uso do sistema industrializado para a execução de fachadas, só poderá ser aproveitado nos canteiros que promoverem mudanças na organização, e tiverem um verdadeiro projeto de produção, com estudo de processos, planejamento e logística de obra.
Segundo a pesquisa, também é imprescindível investir na capacitação e no treinamento da mão de obra contratada.

Silo de argamassa: otimize o fornecimento de materiais das suas obras 

Botão Site

Compartilhe esta matéria

Mais lidas

Veja também

X