Publicado em 05/04/2017Presidente da Abcic faz balanço do setor e vê Agronegócio como boa alternativa
Os shoppings também são uma boa opção, já que estão previstos investimentos de R$ 166 bilhões entre novos empreendimentos e expansões Créditos: shutterstock.com

Presidente da Abcic faz balanço do setor e vê Agronegócio como boa alternativa

Íria Doniak, presidente da Abcic, faz um balanço e aponta caminhos para a indústria investir nos próximos anos

Para comentar sobre o cenário no qual a indústria de concreto está inserida nos últimos anos, o Mapa da Obra entrevistou Íria Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic). Ela comentou sobre os tempos de crise, o reflexo dos grandes eventos esportivos, atuação do segmento da construção industrializada e perspectivas para este ano. Confira:

Mapa da Obra – No ano passado, as empresas do setor continuaram registrando queda, pelo terceiro ano consecutivo. Gostaria que a senhora fizesse um balanço desse período, apontando as causas deste cenário.

Íria Doniak – Em especial, em 2015 e 2016, face ao contexto político e econômico do Brasil, tivemos de administrar, rapidamente, em nossas estruturas a redução expressiva de volumes de produção, mas também nos dedicamos a entender este momento e trabalhamos no Planejamento Estratégico do segmento, com visão de contingência para o curto prazo, mas de desenvolvimento para o longo prazo, pois percebemos mudanças importantes, além de um histórico de mais de 50 anos de atuação no Brasil a ser estudado. Entendemos que este tem sido um tempo dedicado à sobrevivência, mas também ao preparo para uma retomada que acreditamos que virá expressado pelo índice de confiança apontado no início. Os eventos esportivos trouxeram volumes expressivos para o setor, mas pontuais, pois se tratam de obras que não se tem continuamente.

MDO – Os grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, não foram representativos ao setor?

Íria – No que diz respeito às obras voltadas para a Copa de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, a maioria das arenas foram construídas utilizando estruturas pré-fabricadas de concreto. Além disso, as reformas e ampliações dos principais aeroportos do País (Viracopos, Guarulhos e Brasília), necessárias para receber os turistas para a Copa e das Olimpíadas, foram executadas com o sistema construtivo em pré-moldados. Outro legado do pré-fabricado em obras esportivas foi os Jogos Panamericanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro, que também contou com a presença decisiva em diversas instalações. Isso ressalta os benefícios da construção industrializada de concreto e sua versatilidade para atender a diversos tipos de aplicação. Podemos dizer que foram muito representativos ao setor. A pré-fabricação em concreto, em sua capacidade de atender cronogramas ousados sem que haja detrimento da qualidade, contribui para que os eventos esportivos, desde os Jogos Panamericanos em 2007, acontecessem. Nosso setor já consolidado em mercados convencionais se tornou mais presente, especialmente, na infraestrutura.  O maior legado foi o de ter tido a capacidade de demonstrar soluções ágeis e tecnologia de ponta para atender as demandas: arenas, vias de acesso, aeroportos, BRT’s, etc. Os cronogramas nos permitiram concluir que a capacidade de resposta de nosso setor é muito grande e que temos na industrialização a engenharia de que o Brasil necessita para crescer.

MDO – Há algum tipo de mapeamento onde a pré-fabricação é mais presente?

Íria – A recente sondagem da Fundação Getúlio Vargas, encomendada pela Abcic, levantou os segmentos da construção civil onde foram utilizadas as estruturas pré-fabricadas de concreto. A área industrial foi apontada como principal destino das vendas de pré-fabricados, que assumiu a liderança, com participação de 19,9%. Obra em shopping centers, que liderava em 2015, passou para a segunda colocação, com uma participação de 17,4%. Já o segmento de infraestrutura passou a representar 14,8% da demanda das indústrias de pré-fabricados. Na sequência, aparecem as áreas de varejo, com 12,2% de participação; Centros de Distribuição e Logística, com 11,8%; e edifícios comerciais, com 10,2% da demanda. Aparece ainda a área habitacional, com 4,7% de participação na demanda por pré-fabricados.

MDO – Essa pesquisa da FGV fala em um cenário positivo para este ano. O que pode impulsionar a volta do crescimento da produção?

Íria – A construção civil e o nosso segmento, como parte da cadeia produtiva, é geradora de empregos, consumo de materiais e indutora de desenvolvimento. Portanto, apesar do programa de Parcerias e Investimentos (PPI), e das concessões de infraestrutura previstas para este ano e para o ano que vem, além da especial atenção dada ao Programa MCMV, é necessário que o atual governo vá além para reverter o quadro de desemprego e recessão que agrava a situação de empregadores e trabalhadores da construção civil. Compreendemos que medidas de ordem geral em curso, como a fixação de um teto para gastos públicos, a reforma da previdência e o reequilíbrio fiscal, demandam um tempo incomensurável nas articulações e ações imediatas. Porém, importantes obras em andamento ainda estão paralisadas ou paralisando por falta de recursos e demandam, não somente da esfera federal, mas estadual e municipal, uma intervenção emergencial. O impacto em toda a cadeia produtiva desde as empresas de consultoria e projeto, fornecedores de materiais e sistemas construtivos e construtoras, tem sido brutal. Na atual crise, o povo demonstrou, através do sofrimento, estar mais maduro e consciente. A mudança é salutar nas instituições públicas e privadas e estes ciclos precisam ser instituídos. Ouvi certa vez, que as adversidades ou nos matam nos fazem ainda mais fortes, o Brasil acordou a tempo, ainda que talvez tardiamente, mas é uma grande nação, com grande potencial e sairá certamente mais fortalecida.

MDO – Em qual segmento a senhora vê um potencial especial?

Íria – Um dos segmentos que podem impulsionar o crescimento são o agronegócio e as regiões de produção, que trazem um potencial importante de desenvolvimento de infraestrutura, pois a logística não tem a mesma eficiência de produtividade vista no campo, o que significa perda de lucratividade e mais custos para fazer com que os grãos cheguem até os terminais, cujas condições também não são boas. Estamos no limite e algo precisa ser feito. Importantes cidades do interior que são impulsionadas pelo agronegócio demandam investimentos, pois a economia gira de forma diferente. Além disso, pela diversidade de nossa atuação, conforme demonstra o ranking, há também a questão dos locais de armazenamento, já que o e-commerce vem crescendo. A indústria do petshop é uma das de maior índice de crescimento, assim como temos espaço para avançar na área habitacional. Há empresas do nosso setor investindo nessa área.

MDO – Construções de shoppings e estádios, por exemplo, estão saturadas? Quais caminhos alternativos as empresas podem seguir?

Íria – Segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), em 2017, estão previstos investimentos de R$ 166 bilhões entre novos empreendimentos, expansões e modernizações de shoppings centers, com 30 novos negócios no país, em 13 cidades que receberão o primeiro empreendimento. Isso significa que ainda há oportunidades para o setor de pré-fabricado de concreto nesse segmento. Além disso, o bom desempenho do nosso setor em obras de shoppings centers estimula, por exemplo, outra tendência de uso desse tipo de sistema construtivo, que é sua aplicação cada vez mais crescente em edifícios de múltiplos pavimentos, a chamada “verticalização da construção com uso de pré-fabricado”. Essa é uma tendência consolidada na Europa, mas que começa a ter uma presença mais forte no Brasil. Em decorrência de sua versatilidade, a construção industrializada de concreto está presente em diversos segmentos, como obras de infraestrutura, empreendimentos industriais, projetos de habitação de interesse social e de desenvolvimento social, como escolas, projetos especiais, como na área de energia eólica e no agronegócio, entre outros.

 

A escassez de mão de obra fez com que a industrialização da construção civil avançasse no Brasil.

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